O que é Arquitetura Paisagística?
A Arquitetura Paisagística é uma solução para harmonização do espaço, ela surge como agente transformadora da paisagem de espaços, tanto internos como externos, e promove uma composição entre elementos naturais e os que são introduzidos pelo homem.
Sabemos o impacto que áreas verdes proporcionam nas cidades, com resultados positivos que vão além dos benefícios naturais mas que também são sociais. Porém, é necessário se atentar pois o Paisagismo não consiste em um plantio desordenado de espécies de plantas ornamentais mas sim, na criação com sensibilidade e equilíbrio.
Para isso, é necessário conhecimentos em diversos fatores como: botânica, ecologia, clima, solo, para que o local seja ordenado de forma correta e que seja convidativo, agradável e seguro. Por meio deste artigo, vamos explorar a Arquitetura Paisagística e suas possibilidades.
Como este artigo está estruturado
- O que é Paisagismo?
- Características da Arquitetura Paisagística
- Quem pode atuar na Arquitetura Paisagística?
- Como implementar a Arquitetura Paisagística
- O Projeto de Paisagismo
- Arquitetos Paisagistas no Brasil
- Conclusão
O que é Paisagismo?
O Paisagismo, também conhecido como Arquitetura de Paisagem, consiste na recomposição dos espaços geográficos afim de se alcançar harmonia e bem-estar. Para isso, baseia-se em conceitos de Arquitetura, Botânica, Ecologia e Artes.
É comum associarmos Paisagismo a Jardinagem. Porém, um projeto paisagístico não se limita a criação de jardins e praças, ele planeja e preserva espaços livres, sejam eles públicos ou privados, urbanos ou rurais, fazendo com que eles sejam funcionais. Já a jardinagem, refere-se ao trabalho com a vegetação propriamente dita, como será o cultivo das plantas e a manutenção do jardim.
Para nós Arquitetos que pretendemos trabalhar com paisagismo aliado a Arquitetura, há diversas possibilidades de atuações entre elas estão:
- Paisagismo Residencial
- Paisagismo em Edifícios Públicos
- Paisagismo em Edifícios Privados
- Paisagismo em Espaços Públicos
É importante ressaltar que um Projeto de Paisagismo deve ser minimamente invasivo à natureza e é de responsabilidade do profissional responsável pelo projeto realizar um estudo ambiental e social reafirmando o compromisso de manter a natureza ainda mais forte e presente.
Características da Arquitetura Paisagística
A Arquitetura Paisagística tem forte relação com a sustentabilidade, por meio do uso de materiais que colaboram a favor da preservação ambiental, que evitem o desperdício, poluição e minimizem a utilização dos recursos naturais.
Também, em fatores relacionados ao equilíbrio ecológico, promove melhoria na qualidade do ar, controle natural de temperatura, manutenção dos índices pluviométricos, diminuição dos ruídos urbanos, criação de paisagens visuais e locais de relaxamento.
Muitas vezes podem surgir preocupações em escolher a vegetação correta, sobre a manutenção que os jardins podem necessitar para que preservem a beleza esperada, o crescimento das plantas podem influenciar em grandes problemas, para isso é recomendado que já no projeto seja estipulada a vegetação ao passar do tempo para que não tornem futuros problemas.
Quem pode atuar na Arquitetura Paisagística?
Segundo o CAU/BR, pode exercer a profissão de paisagista pessoas que são formadas nos cursos Paisagismo, Arquitetura da Paisagem, Composição Paisagística ou que possua pós-graduação em Paisagismo ou Arquitetura da Paisagem cumulados com graduação em Arquitetura, Agronomia, Engenharia Florestal, Biologia ou Artes Plásticas.
Outras formações como biólogos, geógrafos e agrônomos não podem realizar projetos de paisagismo mas são colaboradores fundamentais na realização dos mesmos.
Como implementar a Arquitetura Paisagística
Para implementar a Arquitetura Paisagística existem diversas técnicas que definem o que é o Paisagismo na prática.
Elas foram elaboradas para que nós, ao ato de projetar, tenhamos um olhar construtivo sobre a área ao qual ocorrerá nossa intervenção. E também, visam a preservação de espécies, a exploração inteligente dos recursos para que o resultado final não seja somente estético mas que seja de forma consciente. Confira a seguir algumas delas:
Mobiliários para Jardins
Os mobiliários para jardins surgem com a proposta de proporcionar locais de convívio, recreação, contemplação e descanso nos jardins e praças. A técnica requer a escolha adequada dos móveis pois os mesmos ficarão expostos às alterações climáticas do local.
Desta forma, cabe também ao paisagista estudar quais os materiais que serão aplicados. Entre alguns exemplos podemos encontrar bancos de ferro, madeira, materiais sintéticos, entre qualquer outro material que seja duradouro e resistentes.
Jardins Verticais
Os Jardins Verticais são soluções paisagísticas para espaços que possuem pequenas áreas livres. A técnica de implementar plantas na posição vertical está muito presente em residências, muros e até apartamentos, mas eles podem ser implementados em qualquer outro ambiente.
O resultado é elegante e cria uma conexão humano-natureza, porém, é preciso se atentar a qual espécie de planta será implementada, necessidade de rega, substratos, desenvolvimento das raízes, incidência de chuvas, iluminação, para que ele se mantenha vivo e funcional.
Uma grande referência em Jardins Verticais é Stefano Boeri, o arquiteto trabalha com projetos voltados a questões ambientais e escassez de habitações, com a proposta de transformar as cidades em zonas mais verdes.
Para ele, os edifícios poderiam ser uma das respostas para a crise do planeta, como uma ferramenta para o reflorestamento urbano.
Caminhos
A circulação pode ser o elemento que integra o espaço à natureza, por meio de trilhas, recantos, caminhos, é possível criar oportunidades de reconexão ambiental e criar espaços mais verdes.
A técnica define os melhores percursos para se percorrer um jardim e aproveitar sem que hajam danos a vegetação. Normalmente são aplicadas lajotas, cascalhos e podem dar acessos a infraestruturas locais.
Uma referência de caminhos em meio a natureza é a revitalização do bosque em torno da Casa de Vidro da Arquiteta Lina Bo Bardi, no bairro do Morumbi, em São Paulo.
Criar Texturas
Criar texturas é brincar com as possibilidades e é uma técnica recorrente na Arquitetura Paisagística.
Harmonizar materiais como fibras sintéticas, tecidos, folhagens, madeiras, estruturas de forma que integre a natureza ao ambiente e o torne agradável. Além das tonalidades do verde, somado aos coloridos de flores e frutas, pode se usar em conjunto com os materiais em harmonia e solidariedade.
Gazebos e Fontes
Gazebo é uma estrutura aberta em todas as faces, normalmente composta por quatro colunas em madeira que sustentarão um pergolado. Nele podem ser apoiadas plantas, como trepadeiras, gerando um ambiente confortável e agradável para convivência.
Outra técnica é o uso de fontes, muito utilizada em espaços com uma maior incidência hídrica, o que evita a formação de charcos e acúmulos de água, pois assim, ela é controlada e direcionada. Mas não só por isso, as fontes também podem ser criadas exclusivamente com a finalidade ornamental.
O Projeto de Paisagismo
O Projeto de Paisagismo consiste em conhecimentos sobre topologia, arte, paisagem, cultura, biomas, patrimônio, aliado a fatores geográficos, hidrográficos, bióticos e humanos.
Ao paisagista cabe integrar os desenhos aliados ao acompanhamento projetual, onde os elementos construtivos vão além da vegetação, contemplando a iluminação, revestimentos de piso, espelhos d’água, pergolados, acessos, entre outros. Também deve ser considerada a paisagem urbana, vegetação presente, área construída, circulação de pessoas e os espaços livres presentes.
Ainda, é preciso criar a relação da Paisagem com a Arquitetura, dando funcionalidade, como por exemplo: um jardim em um edifício comercial também é um espaço para convivência e relaxamento.
Outro ponto de extrema importância é a escolha da vegetação, uma dica é priorizar as espécies nativas da região, pois assim facilita a manutenção do jardim. Além disso, deve-se considerar seu porte, altura, sombra e composição de espécies.
Em um projeto, a orientação do norte é de extrema importância, no projeto de paisagismo é imprescindível, pois nos indica a variação da iluminação solar, o que formará áreas de luz e sombra, além da direção dos ventos que predominam na área.
Uma tendência muito utilizada em Projetos Paisagísticos é o Lighting Design que trata da elaboração de projetos de iluminação aliando a estética com a funcionalidade da luz. Através deste método, atribui-se valor e conforto aos espaços, utilizando recursos de luz e sombra.
Um projeto de paisagismo é a representação gráfica que consta de forma detalhada todas as informações necessárias para a realização do projeto e assim, como a elaboração de qualquer projeto, o Projeto Paisagístico também contém etapas que devem ser seguidas, descreveremos cada uma delas a seguir:
Estudo Preliminar
O estudo preliminar é o momento de entender as necessidades do cliente, pautar o que o cliente pode esperar do projeto e como o mesmo pode contribuir. Também por meio de referências.
Assim, já é possível levantar dados relativos a área, qual será a presença em volumes naturais (árvores, vegetações, rios) e edificados (casas, edifícios, muros). Desta forma, pode-se estipular as sombras, criando ambientes com mais ou menos sombras.
É o momento de analisar também a necessidade de incluir equipamentos complementares, como iluminação, irrigação e qualquer outra estrutura que se faça necessária.
Entre os levantamentos básicos necessários relativos ao local podemos elencar:
- Documentação fotográfica;
- Localização;
- Clima;
- Solo;
- Topografia;
- Vegetação existente;
- Proposta a ser alcançada;
- Necessidade dos meus usuários;
- Áreas e dimensões;
- Características construtivas;
- Entorno;
- Acesso a água;
- Orçamento disponível.
Anteprojeto
No Anteprojeto, todos os dados que foram levantados são utilizados para a elaboração de plantas e detalhes de aspectos estéticos e funcionais. Este é o momento de deixar a criatividade aflorar e propor as melhores soluções encontradas.
Explore as cores, formas, volumes, composições e também dê sugestões de mobiliários e elementos adicionais como fontes, pergolados, redários, cascatas, plantas artificiais, entre outros.
O Anteprojeto pode ser realizado em softwares próprios para paisagismo ou nos convencionais de projeção como o Revit, Sketchup e Autocad e pode ser realizado da seguinte forma:
- Dimensionamento das áreas de uso;
- Acessos e circulação;
- Composição da proteção aos ventos e sol da tarde;
- Organização dos espaços que compõe o projeto;
- Locação dos pontos de irrigação, iluminação, água potável;
- Adequar as escalas e apresentar por meio de diagramas, plantas e cortes esquemáticos;
- Apresentação, discussão e alterações com o cliente.
Projeto Executivo
Nesta etapa, projetos complementares são adicionados, como por exemplo iluminação e irrigação. Aqui também são compatibilizadas informações sobre manutenção, orçamento, tempo de execução, espécies, materiais, adubação, tamanho da cova e tudo o que for necessário de acordo com a especificidade do projeto.
A depender da complexidade da obra, pode neste momento ser necessária a inclusão de outros profissionais além do paisagístico, incluindo projetos como:
- Arquitetônico;
- Urbano;
- Botânico;
- Civil;
- Hidráulico;
- Elétrico;
- E qualquer outro que se faça necessário para implantação e manejo da área.
Assim, chega o momento de colocar em prática.
Memorial Descritivo
Um Memorial Descritivo reúne todos os aspectos importantes de uma obra, desde a fundação ao acabamento, na Arquitetura Paisagística o mesmo deve relatar os elementos de relevância para a implantação e manutenção que não estão presentes nos desenhos (planta baixa), mas que são de extrema necessidade.
Arquitetos Paisagistas no Brasil
Alex Hanazaki
Alex Hanazaki, arquiteto paisagista e artista plástico, é um dos maiores nomes do paisagismo contemporâneo nacional. Seus projetos são ricos em diversidade, contemplando soluções atemporais, com ideias modernistas, brutalistas, baseadas no tropicalismo brasileiro.
O arquiteto busca explorar experiências sensoriais por meio de formas, texturas e cores, trazendo a ideia de sons, movimentos e representação de elementos naturais (terra, fogo, metal, madeira e água).
Como referência, trouxemos o Hotel Carmel Taíba, localizado no Ceará, o hotel conta com 12.000,00 m² em áreas externas, o que fez com que os espaços vazios fossem contemplados com áreas de jardim, percursos e equipamentos de lazer.
O arquiteto buscou criar relações do concreto com o natural, vemos isso na piscina que se abre para o mar a mesma perspectiva que é possível ver o pôr do sol. Também pelos percursos que interagem com planos verticais de totens e muros, o trabalho com as cores, com as sombras das palmeiras e pergolados.
Neste projeto contém mais de setenta espécies vegetais, tropicais em sua totalidade, que proporcionam a beleza botânica.
Gilberto Elkis
Gilberto Elkis, o renomado paisagista da atualidade, no mercado a mais de 35 anos, estudou a flora típica de várias partes do mundo. Seus projetos contemplam sustentabilidade e valorização espacial com escalas e tipologias diversificadas.
Em escala residencial temos uma referência do paisagismo contemporâneo empregado pelo arquiteto, contemplando a vista para a paisagem e a criação de um mirante. O projeto também conta com ventilação e iluminação natural, além do uso de materiais de baixo impacto ambiental.
Roberto Burle Marx
Roberto Burle Marx é um dos maiores nomes do paisagismo brasileiro, consagrado mundialmente, é considerado um dos percursores do modernismo da arquitetura brasileira. O arquiteto valoriza as plantas nativas e tem influência no estilo humanista.
Autodidata, realizou pesquisas sobre a flora brasileira e rejeitava projetos de floras exóticas, que são as espécies importadas, entre seus projetos de paisagismo encontram-se a Praça das Fontes, o Itamaraty e o jardim externo do Palácio da Justiça.
O arquiteto realizou até o fim da vida mais de 2.000 projetos, seguindo a experimentação. A seguir, podemos observar o terraço-jardim projetado para o Edifício Gustavo Capanema, conceito arquitetônico cuja cobertura do edifício é utilizada como um espaço de convivência e lazer.
O projeto é definido por formas sinuosas e vegetação nativa e também, foi considerado um marco de ruptura no paisagismo brasileiro, contemplando uma configuração inédita no país.
Rosa Grena Kliass
Rosa Kliass é a paisagista que representa as mulheres entre os paisagistas brasileiros mais renomados. Fundadora da ABAP (Associação Brasileira dos Arquitetos e Paisagistas), entre seus trabalhos estão o plano urbanístico de Curitiba e em São Paulo, a reforma do Vale do Anhangabaú e o paisagismo do Parque da Juventude, antigo Carandiru.
Podemos ver no Parque da Juventude, o paisagismo presente em toda a área, criando percursos que geram integração com os equipamentos de apoio e o Parque Central.
Conclusão
Sabemos que a Arquitetura Paisagística está a cada dia ganhando mais visibilidade pois tem reflexos diretos na qualidade de vida do usuário e por isso, investir no Paisagismo e trabalhar com esse conceito é uma ferramenta determinante para se destacar no mercado da Arquitetura.
Também, restabelecer parte do equilíbrio rompido da natureza é uma forte forma de conscientizar as pessoas da importância do planejamento e projeto paisagístico. Afinal, ele é o responsável por proporcionar a qualidade de vida que só a natureza pode oferecer.
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