O que é e como surgiu o telhado verde

O termo telhado verde costuma se referir às cobertas com vegetação, mas o seu significado engloba até mesmo cobertas com painéis solares, de forma que o ‘verde’ está associado à sustentabilidade. No entanto, para esse artigo, se refere especificamente ao uso da vegetação nas superfícies de cobertura

Fotografia externa do projeto Casa Plana, de Lair Reis e Marcio Kogan (Studio MK27), localizado em Porto Feliz, São Paulo. Na imagem, o telhado verde que integra a residência à paisagem.
Casa Plana, projeto de Lair Reis e Marcio Kogan (Studio MK27)

Igualmente conhecidos como teto jardim ou terraço jardim, são definidos como um sistema composto por camadas sobrepostas à coberta da edificação, permitindo o plantio sobre a laje, favorecendo a edificação e seu entorno, especialmente em grandes centros urbanos. 

Como resultado do movimento moderno, seu uso se difundiu com os cinco pontos da nova arquitetura formulados por Le Corbusier (planta livre, fachada livre, janela em fita, pilotis e terraço jardim).

No entanto, as primeiras aparições desse elemento arquitetônico são registradas nos Zigurates da mesopotâmia, em 600 a.C., conhecidos como os jardins suspensos da Babilônia. 

Ilustração representando os jardins suspensos da Babilônia.
Jardins suspensos da Babilônia

Posteriormente, com as inovações dos sistemas impermeabilizantes e materiais, surgiram diversas possibilidades projetuais para aplicação do sistema.

Dessa forma, o componente da arquitetura sustentável vem se popularizando cada vez mais, com a sua inclusão em legislações. Um exemplo é a cidade como Recife, com a sanção da Lei Municipal Nº 18.112/2015.

Por isso, arquitetos e engenheiros devem conhecer os diferentes tipos de telhado verde e saber como fazer uso desse elemento nas suas propostas projetuais

Como esse artigo está estruturado

Quais as vantagens de um telhado verde?

Assim como os painéis fotovoltaicos, os sistemas de telhado verde são um dos principais elementos da arquitetura sustentável. Por ser considerado uma proposta que favorece o meio ambiente ao reduzir parcialmente o impacto da construção civil, seu uso vem se tornando cada vez mais comum. 

Promove conforto térmico e acústico  

Primeiramente, o uso de telhado verde nas coberturas protege as edificações, garantindo o conforto térmico e resfriamento através da evaporação, além do conforto acústico de seus ambientes. 

Diminui as ilhas de calor 

Em algumas cidades, a especificação de teto jardim passou a ser obrigatória para novas construções, com o intuito de diminuir as ilhas de calor. Ou seja, por não refletirem os raios solares como acontece em coberturas tradicionais, diminuem a sensação térmica ao redor da edificação. 

Leitura térmica mostrando a diferença de temperatura em áreas arborizadas.
Diferença térmica em áreas arborizadas

Produz oxigênio e sequestra gás carbônico 

A presença da vegetação é algo essencial, mas muitas cidades sofrem com a ausência de espaços arborizados em quantidade suficiente para sua população. Dessa forma, os telhados verdes são uma solução que permite aumentar a área verde, sem interferir no adensamento existente, garantindo a qualidade do ar na urbe.  

Drenagem da chuva 

Seu uso também auxilia na regulação da drenagem da chuva, até mais do que outros esquemas de águas pluviais. Além disso, permite a captação dessa água e reaproveitamento, etapas especificadas no Projeto Hidrossanitário.

Ilustração demonstrando a captação de água em teto jardim.
Captação da água em teto jardim

Preserva habitats 

A presença da vegetação no teto jardim permite a criação e manutenção de habitats, que sofrem com a ausência de áreas verdes nas cidades. 

Desvantagens 

Apesar de todos os benefícios do teto verde, existem algumas desvantagens a se considerar. Em suma, a principal é o custo mais elevado do que das coberturas tradicionais para construção, sendo o terraço jardim economicamente vantajoso apenas a longo prazo.  

Também é necessário tomar cuidados especiais com o vento e fogo, devido à presença da vegetação, e a falta de mão de obra na área pode causar uma execução mal feita, com surgimento de vazamentos e infiltrações na edificação como resultado. 

Tipos de telhado verde

Os telhados verdes se dividem em dois tipos, que se referem a densidade das suas camadas e espécies de vegetação que podem sobreviver no substrato. 

Extensivo 

Os extensivos são compostos por camadas finas e são uma opção mais leve. Essa alternativa costuma ser coberta apenas por forração e suporta menor carga de água das chuvas, mas são mais simples e geram menor sobrecarga da estrutura, assim como menor custo para manutenção.  

Em algumas situações podem ser projetados para coberturas de edificações pré-existentes, desde que o cálculo estrutural seja suficiente para suportar a sua carga. 

Intensivo 

Os intensivos ou semi possuem um solo mais fundo e, por isso, aceitam diferentes espécies, podendo apresentar um tratamento paisagístico similar aos jardins. Em contrapartida, requerem manutenção mais frequente, são mais pesados e consequentemente mais caros

Fotografia externa, projeto de arquitetura bioclimática com teto verde.
Projeto de arquitetura bioclimática

Por terem um impacto maior na estrutura, só podem ser implementados em projetos que ainda não foram executados, uma vez que os cálculos estruturais precisam levar em consideração essa carga extra

Além disso, requerem outros cuidados adicionais, como o sistema de irrigação e a escolha de plantas adequadas, que sejam nativas ou se adaptem fácil e suportem sol pleno.  

Etapas de montagem do telhado verde

Compostos por diferentes camadas, os projetos para teto verde partem da sobreposição destas partes à laje impermeabilizada da edificação. Assim, as etapas desse processo se dividem da seguinte forma

Diagrama demonstrando os componentes do telhado verde em sua montagem.
Montagem do teto verde

Laje  

Começando pela coberta da edificação, as lajes devem possuir inclinação mínima de 2% para assegurar uma drenagem efetiva, seguindo o fluxo de caimento. 

Impermeabilização 

Com o intuito de proteger os elementos estruturais da umidade e infiltração, as coberturas devem ser impermeabilizadas, seguindo as recomendações das NBR 9574:2008 e 9575:2010.  

Dentre as várias opções, uma das mais usadas é a manta asfáltica antiraiz, solução que previne tanto a passagem da água quanto das raízes. Sua instalação é feita indo da parte mais baixa em direção a mais alta, seguindo o sentido da inclinação.  

Após a impermeabilização, a realização da proteção mecânica ajuda a garantir a durabilidade do sistema, protegendo contra os danos mecânicos. Composta por argamassa de cimento e areia, emulsão adesiva e se necessário, uma tela para estruturar.  

Drenagem 

A drenagem é o sistema responsável por levar o excesso de água para as calhas e pode contar com a captação das águas pluviais ou não. Na aplicação das membranas, faz-se necessário acrescentar uma camada de drenagem para circulação dessa água, ao mesmo tempo que impeça a passagem do substrato.  

Com o intuito de impedir o entupimento dos drenos pelo acúmulo de substrato, se utiliza a manta filtrante (geotêxtil) para filtrar a água. 

Substrato e vegetação 

Essa camada se forma pela junção do substrato e vegetação, podendo ser considerada extensiva ou intensiva, como mencionado anteriormente.  

Imagem demonstrando o substrato e vegetação no telhado verde.
Substrato e vegetação

O substrato mineral possui micro-nutrientes essenciais para as plantas e deve ser especificado de acordo com o tipo de teto verde e vegetação a ser implantada. 

Considerações

Para o bom funcionamento de um teto verde, além de seguir os passos da montagem, algumas outras questões a se estudar são: 

  • As áreas de coberta devem estar expostas a luz solar de forma adequada ao tipo de vegetação especificado, pois as sombras de edificações vizinhas podem impedir o crescimento de determinadas espécies. 
  • É necessário garantir um acesso ao teto jardim para manutenção periódica, podendo ser também uma área comum da edificação a ser acessada por todos.  
  • O projeto do sistema estrutural, sistema de drenagem e sistema de irrigação são pontos chave para uma execução segura e funcional da cobertura verde. 
  • Junto com outros elementos, os telhados verdes atribuem pontos para certificados de edificações sustentáveis, como o LEED e AQUA. 

Conclusão

A implementação de telhados verdes em projetos de arquitetura vem se tornando cada vez mais comum e suas vantagens estão relacionadas à sustentabilidade e conforto térmico. São de grande relevância em centros urbanos, a tal ponto que se tornaram obrigatórios por lei em determinadas cidades. 

Sua especificação depende diretamente do projeto estrutural e por isso, este deve ser pensado com cuidado. Além disso, deve seguir as normas referentes a impermeabilização e ter sua vegetação escolhida de acordo com o local e resistência das espécies.  

Apesar de ser um elemento relativamente simples, é necessário ter conhecimento do seu processo de montagem e detalhes para garantir um projeto bem elaborado.  

Nesse artigo, estão explicados alguns pontos, mas é essencial que arquitetos e engenheiros aprofundem seu conhecimento sobre o tema antes de colocá-lo em prática. Caso você ainda tenha dúvidas em alguma etapa projetual, a Plataforma Projetou.com.br pode te ajudar!