Neuroarquitetura: o que é?
A neuroarquitetura é o uso dos conceitos da neurociência aplicados à arquitetura. Demonstra como o espaço físico impacta em nosso cérebro. Vários aspectos influenciam a percepção do meio por parte dos indivíduos. As cores aplicadas a um ambiente, a textura dos materiais utilizados, iluminação, som, entre outros.
Ao estarem presentes em um ambiente, as pessoas, através dos sentidos, absorvem os estímulos concedidos pelo espaço. Então, apresentam uma sensação a esse estímulo, tomando consciência da existência do mesmo, e consequentemente, interpretando a sensação provocada de forma racional.
Essas sensações desencadeadas, após a percepção do estímulo, são influenciadas por seus contextos pessoais, coletivos e culturais. Elas podem ser positivas ou negativas, fixando no cérebro uma resposta afirmativa ou não ao ambiente.
A neuroarquiteura estuda e avalia o impacto desses fatores sensoriais presentes na arquitetura, urbanismo e design, para que promovam sensações consideradas benéficas pelo cérebro, acarretando em emoções que concedem uma leitura positiva do ambiente.
O mercado está percebendo a necessidade de gerar espaços que influenciem positivamente o emocional das pessoas, uma vez que isso impacta diretamente em suas ações. Por isso, é necessário não focar apenas em forma e função, mas apresentar projetos que realmente impactam na qualidade de vida de seus usuários. E isso é possível através da neuroarquitetura.
Como esse artigo está estruturado
- Como o neuroarquitetura surgiu?
- Porque utilizar a neuroarquitetura?
- A neuroarquitetura é sensorial.
- Neuroarquitetura no Brasil: arquitetura comercial e empreendedorismo.
- Como aplicar a neuroarquitetura
- Conclusão
1. Como a neuroarquitetura surgiu?
A neuroarquitetura surgiu através dos trabalhos do neurocientista Fred Gage e do neurocientista e arquiteto John Paul Eberhard, desenvolvidos nos anos 90. Esses estudos abordavam a plasticidade neuronal, avaliando a capacidade de criar, reforçar ou interromper sinapses sendo afetada pela percepção do cérebro sobre o meio ambiente.
Com base nesses estudos, em 2003 fundaram a Academy of Neuroscience for Architecture (ANFA), localizada em San Diego, na Califórnia.
Com isso, as discussões sobre o tema se tornaram cada vez mais relevantes, sendo empregadas com diferentes objetivos dentro dos campos de arquitetura, urbanismo e design de interiores.
2. Porque utilizar a neuroarquitetura?
A neuroarquitetura tem como propósito impactar a saúde e bem estar de seus usuários, trazendo mais qualidade de vida às pessoas. Os estudos desenvolvidos sobre o cérebro humano demonstram que as conexões neuronais se adaptam à forma como o cérebro é estimulado.
Ou seja, o espaço físico pode afetar as interações entre os neurônios, fazendo com que se reforce ou crie conexões positivas ou transmita reações negativas.
Ao trabalhar as percepções dos indivíduos sobre o meio em nível neuronal, o neuroarquitetura traz respostas para a produção de uma arquitetura que atenda as vontades intrínsecas aos usuários do espaço.
Por exemplo, uma pessoa doente em um ambiente que transmita sensações de calma e acolhimento, pode se sentir acolhida e confortável, o que afeta seu estado de espírito e sua saúde. Podemos identificar isso no projeto arquitetônico do Hospital Universitário St. James, na Inglaterra. Nesse, foi empregado o uso da arquitetura biofílica.
A biofilia prega que todo ser humano tem afinidade com a natureza, devido a nossa relação ancestral e evolutiva com o meio natural. Com isso, traz elementos naturais e vegetação para o interior dos ambientes, de forma a afetar o emocional das pessoas.
Nesse projeto, também é possível perceber o inegável impacto da arquitetura sustentável sobre o comportamento humano.
Outro conceito utilizado pela neuroarquitetura é o epigenetic design. Nesse, acredita-se que padrões neuronais são definidos não apenas por genética, mas também por fatores comportamentais, que podem ser gerados pela interação com o meio. Logo, utiliza elementos que influenciam o comportamento de seus usuários, gerando respostas que afetam a função cerebral.
É possível exemplificar como um ambiente pode afetar a maneira de agir das pessoas através do espaço religioso projetado por Tadao Ando, a Igreja da Luz. Com poucas informações e o símbolo religioso retratado em destaque, esse espaço propicia poucas distrações aos seus usuários. Isso pode levá-los a um comportamento mais calmo e contemplativo.
3. A neuroarquitetura é sensorial
O cérebro humano absorve as informações sobre o meio através dos 5 sentidos. Por isso, os aspectos físicos que envolvem os sentidos são levados em consideração para construir espaços com base na neuroarquitetura.
Podemos identificar o estímulo aos cinco sentidos, para fins de exemplo, em alguns espaços escolares infantis.
Segundo Maria Montessori, médica e pedagoga italiana, na primeira infância (0 a 3 anos) as crianças absorvem todos os estímulos do meio, semelhante a uma esponja. Já na segunda infância (3 aos 6 anos), existe consciência em relação às percepções do meio.
Uma criança que recebe estímulos adequados à sua faixa de desenvolvimento e capacidades físicas e emocionais no ambiente escolar, produz substâncias em seu cérebro que irão gerar sensações positivas com relação à educação e à escola, o que a incentiva a estudar.
Esses estímulos podem ser mobiliário adequado a sua estatura, bem como livros e brinquedos, entre outros, o que incentiva sua autonomia. Cores claras, tons pastéis, e revestimentos como a madeira, que remetem a uma sensação acolhedora.
Além desses, ambientes arejados e bem iluminados ajudam no foco e fixação do aprendizado.
Outros estímulos são pisar em gramados, sentir o cheiro das plantas e flores, o sabor de legumes e ervas frescas propiciado por uma horta cultivada pelos próprios alunos.
Essas percepções serão fixadas no cérebro, e poderão gerar um gatilho positivo sempre que a criança estiver em ambientes associados à educação e ao aprendizado. É importante ter em mente como a memória afetiva influencia a percepção das pessoas. Nosso cérebro é capaz de evocar memórias através de estímulos ambientais, gerando sensações.
Por exemplo, uma confeitaria com cheirinho permanente de bolo pode remeter à lembrança do quitute feito pela avó ou outro parente querido.
Isso traz aconchego e abre o apetite. Logo, para esse espaço pode ser positivo que haja ventilação da cozinha em direção ao salão onde os clientes são atendidos, para estimular o olfato e o paladar.
4. Neuroarquitetura no Brasil: arquitetura comercial e empreendedorismo.
No Brasil, a maior busca por arquitetos e designer de interiores especializados em neuroarquitetura tem ocorrido por parte de empresários do ramo do comércio e serviços.
Isso porque essas empresas desejam proporcionar ambientes que estimulem o foco, eficiência, criatividade e trabalho em equipe, no caso dos escritórios, e a permanência e o consumo, no caso da arquitetura comercial.
Contudo, é sempre importante ter uma postura profissional nesses casos. É relevante agir de forma ética, estando atento para não criar ambientes que possam afetar negativamente a saúde física e emocional de quem os frequenta, sem que esses percebam.
Apesar do abrangente uso comercial, a neuroarquitetura já avança com seu emprego para o projeto de arquitetura voltado às residências. Desenvolver ambientes confortáveis e agradáveis, com o perfil adequado às necessidades dos habitantes da edificação deve ser premissa presente na arquitetura e decoração de interiores.
5. Como aplicar a neuroarquitetura
1. Iluminação
Estimular o uso da iluminação natural, trazendo maior entrada de luz para diferentes cômodos, pode aumentar a disposição e produtividade, bem como humor e bem estar. A luz natural impacta nosso ritmo circadiano, influenciando no funcionamento regulado do nosso organismo.
No caso das luzes artificiais, quando bem empregadas são essenciais para a dinâmica e uso dos espaços. Um bom projeto luminotécnico faz com que os ambientes possam proporcionar diferentes atmosferas aos seus usuários, gerando sensações diversificadas de acordo com suas vontades.
A luz é classificada de acordo com a temperatura de sua cor. Quanto mais alta a temperatura, maior a emissão de luz, quanto mais baixa, menor.
É importante salientar que a temperatura da cor não influencia na eficiência energética da lâmpada, e sim sua potência. Uma fonte de luz branca não ilumina mais que uma amarela, apenas provoca mais contraste visual.
Por conta do maior contraste visual, as luzes brancas são geralmente empregadas em ambientes de trabalho. Contudo, há estudos associando a exposição prolongada a luzes brancas com efeitos negativos ao organismo, como insônia e problemas visuais.
Por isso, é importante foco especial, ao projetar, na intensidade de brilho da fonte de luz, uma vez que esse pode provocar desconforto visual e cansaço, além do posicionamento da fonte luminosa nos ambientes. Essas medidas podem prevenir e amenizar efeitos nocivos à saúde.
Para suavizar o brilho das fontes luminosas e trazer diferentes efeitos aos ambientes, pode ser utilizado o dimmer, tipo de interruptor que diminui ou aumenta o brilho de lâmpadas.
Através da iluminação geral difusa também temos a diminuição do brilho da fonte luminosa, além de permitir que não haja um sombreamento no cômodo. Isso ocorre graças ao seu elemento difusor, geralmente vidro ou acrílico. Por suas características, é uma luz mais confortável.
Com relação às luzes amareladas, essas tem sido muito utilizadas com efeito decorativo, transmitindo sensação aconchegante, intimista, além de sofisticação aos ambientes.
Diferentes técnicas podem ser empregadas ao projeto luminotécnico, de acordo com os efeitos desejados.
2. Ventilação
Ambientes com ventilação natural tem grande impacto sobre a saúde das pessoas. A ventilação natural permite a purificação dos ambientes por meio da entrada e saída de ar dos espaços. Também permite o controle da umidade, além de melhorar a sensação térmica.
Planejar o posicionamento das esquadrias e demais entradas de ar considerando aspectos como ventilação cruzada, além das trocas de ar quente ou frio de acordo com os materiais e métodos construtivos, são questões cruciais.
A ventilação artificial pode ser propiciada por ventiladores, exaustores e ar condicionado. Atua de forma mecânica, podendo gerar calor ou frescor aos ambientes, além de propor a renovação ou purificação do ar.
No caso da ventilação artificial é importante estar atento ao emprego adequado desses aparelhos, para otimizar seus benefícios. Prever o ar condicionado adequado ao tipo de ambiente e posicioná-lo de forma a melhorar a circulação do ar no espaço faz toda a diferença para gerar um ambiente agradável.
É importante que o projeto esteja voltado para beneficiar ao máximo a ventilação natural e o bom uso dos equipamentos para ventilação mecânica.
3. Acústica
O conforto acústico permite que se entenda com clareza a fala das pessoas que ocupam um ambiente, através da boa propagação dos sons nesse espaço. Também pode repelir sons indesejáveis, tornando ambientes agradáveis para o trabalho, descanso, entre outros.
Várias medidas podem ser tomadas com relação à acústica. Esquadrias bem posicionadas e vedadas, uso de materiais como lã de vidro, painéis acústicos e placas de drywall, por exemplo, ajudam a evitar a reverberação do som.
O uso de música ambiente adequada ao estilo do local incentiva a permanência e o convívio. A disposição e desenho desenvolvidos no projeto arquitetônico também pode facilitar ou diminuir a percepção sonora.
Podemos ver esse exemplo através da arquitetura cenográfica desenvolvida para o Centro cultural CCK Jordanki, na Polônia, projeto de Fernando Menis. Foi utilizada a técnica denominada picado, aplicada ao concreto, visando trazer excelente acústica ao ambiente.
4. Vegetação
É comprovado cientificamente que o uso de vegetação traz relaxamento e bem estar às pessoas. Por isso, é importante investir no paisagismo, uma vez que agrega valor aos espaços, incentiva a contemplação e a permanência. O uso de vegetação também gera a purificação do ar, influencia na sensação térmica e na acústica.
É possível utilizar paredes verdes como barreira visual e para conforto térmico, por exemplo.
A vegetação pode ser utilizada para sombreamento em edifícios e áreas públicas. Plantas em centros urbanos e residências também melhoram a qualidade do ar.
Temos, com relação a esse tema, a bioarquitetura, responsável por aliar a beleza e funcionalidade da vegetação ao projeto arquitetônico. O uso de plantas também é crucial à arquitetura sustentável.
5. Psicologia das cores
Através da psicologia das cores, muito associada à neuroarquitetura, é possível entender o comportamento humano ocasionado pela percepção das cores.
As cores são analisadas pelo cérebro em diferentes níveis. Seja pela energia que transmitem por seus fótons luminosos, frequência eletromagnética, padrões filogenéticos (conhecimentos adquirido por padrões evolutivos), semiótica, entre outros.
Todos esses fatores, inerentes a experiência social e individual de cada pessoa, geram uma resposta à presença da cor. Com isso, é possível desenvolver diferentes atmosferas à partir das cores empregadas nos ambientes, possibilitando variadas sensações.
Por exemplo, ambientes em cores escuras podem passar uma imagem austera e elegante, de acordo com a forma como são empregadas.
Quando mal utilizados, os tons escuros podem ser associados a tristeza e angústia.
Já ambientes claros remetem a serenidade, assepsia, leveza. Quando mal utilizados, podem transmitir frieza e monotonia.
Tons terrosos podem propiciar uma sensação de aproximação com a terra e com a natureza. Também trazem solidez e sensação de acolhimento.
Já tons quentes, como o vermelho, vinho, laranja e amarelo, estimulam a energia, trazem positividade, alegria e dinamismo. Também são muito associadas em ambientes voltados à refeição, para estimular o apetite.
Os tons de vermelho também podem passar a sensação de alerta, perigo. Já os de amarelo também podem ser associadas à irracionalidade e fragilidade.
O verde é uma cor ligada à calma. Pode remeter à tranquilidade e saúde, por isso é muito empregada em ambientes como clínicas e consultórios. Contudo, também pode passar a impressão de tédio.
O azul é uma ótima cor para trazer sensação de profundidade aos ambientes. Remete à calma e segurança. Também passa sensação de frescor e higiene. Seus tons mais escuros transmitem poder e segurança.
6. Organização dos espaços e mobiliário
A arquitetura e design de interiores bem pensada otimiza o mobiliário aplicado aos diferentes ambientes, como cozinhas, quartos, escritórios, entre outros, para que ajudem na organização e utilização dos objetos e equipamentos presentes nas residências e demais edificações.
Um ambiente organizado traz a sensação de tranquilidade e bem-estar. Por isso, planejar mobiliário funcional, que explore ao máximo as diferentes possibilidades de uso e armazenagem auxiliam na organização do ambiente.
Um projeto de móveis inteligente consegue otimizar os espaços, propor mobiliário condizente com a necessidade de seus usuários e aliar beleza e funcionalidade, aguçando os sentidos.
6. Conclusão
Nesse artigo aprendemos o que é a neuroarquitetura, como surgiu e o seu propósito. Além disso, entendemos a importância de se aprofundar nesse tema, trazendo soluções que abordem a neuroarquitetura para projetos residenciais e comerciais, com o objetivo de produzir espaços que proporcionem sensações positivas aos seus usuários.
Para isso, aprendemos a aplicar diferentes conceitos à arquitetura, urbanismo e design de interiores que agregam aspectos da neuroarquitetura como: iluminação, temperatura, presença da natureza e distribuição dos espaços.
Dessa forma, a neuroarquitetura nada mais é do que entender como o ambiente físico influencia a estrutura e o funcionamento de nosso cérebro, uma vez que, o ambiente tem impacto direto no nosso comportamento, qualidade de vida e na forma que vivemos.
Parabéns, artigo bem objetivo e explicativo. Sucesso. Adorei o destaque para o ambiente escolar.
Ótimo artigo, muito bem explicado e de grande ajuda para os que não conhecem! A neuroarquitetura deveria ser aplicada em todos projetos!
Gostei muito do artigo e do tema. Gostaria de receber mais informações sobre a neuroarquitetura.
Obrigada
Boa tarde, gostei muito do conteúdo, se tivesse uma forma de explanar mais, ou até mesmo um curso que falasse sobre o conteúdo seria muito interessante.
[…] é um ponto importante a se considerar durante os projetos de arquitetura. Muitos estudos de Neuroarquitetura, atribuem a redução do estresse e da ansiedade à presença de elementos […]
[…] Existem diversas soluções que podem ser adotadas, entre elas encontramos telhados verdes, fachadas ventiladas, uso de ventilação cruzada, criar relações entre o externo e interno, entre o humano e o natural. […]
[…] recentes no âmbito da Neuroarquitetura, afirmam que os ambientes físicos têm capacidade de desempenhar estímulos no cérebro […]
Artigo mega interessante! Gostaria de saber algumas referências bibliográficas para me aprofundar ainda mais nesse assunto que é atual e necessário.
Olá Camila! Você faz projetos on LINE de ambientes utilizando a neuro? Gostaria de conversar com você sobre está possibilidade?!
Aguardo teu retorno
Sou leigo no assunto, mas achei seu artigo muito esclarecedor. Abriu meu entendimento e desejo de conhecer mais… obrigado pela sua contribuição e todo sucesso do mundo!