O que é Arquitetura Inclusiva?

A Arquitetura Inclusiva é a que permite que pessoas com qualquer tipo de limitação, sejam elas temporárias ou permanentes, possam fazer uso do espaço com autonomia, conforto e segurança.

Ela está diretamente relacionada ao conceito de Desenho Universal cujo estruturas e equipamentos devem ser utilizados por todos sem que seja necessário fazer adaptações.

Arquitetura Inclusiva
Arquitetura Inclusiva

Sabemos que a função do arquiteto é de elaborar projetos que atendam às necessidades e limitações dos usuários, cada um com suas características únicas e que devem ser levadas em consideração, pois são eles que farão sua futura ocupação.

Apesar disso, muitos projetos ainda aplicam suas medidas de forma pontual, resultando em espaços não inclusivos e sem planejamento. E ainda, não basta que os espaços sejam simplesmente acessíveis, eles devem ser seguros e confortáveis.

Como este artigo está estruturado

Contexto Histórico da Arquitetura Inclusiva

Embasando neste contexto, devemos lembrar que a Arquitetura no Brasil ganhou representatividade a partir do período Modernista por meio de grandes nomes entre eles Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, João Villanova Artigas e Oswaldo Bratke.

Edifício do Ministério da Educação e Saúde (Edifício Gustavo Capanema) - Lúcio Costa, Oscar Niemayer e outros
Edifício do Ministério da Educação e Saúde (Edifício Gustavo Capanema) – Lúcio Costa, Oscar Niemayer e outros

Marcando os conceitos da construção, o Modernismo possui como característica forte valorização da estética e foi difundido pelo francês Le Corbusier, arquiteto que tinha como um dos preceitos a padronização humana.

O desenho do corpo humano com dimensões perfeitas de um jovem homem realizado por Leonardo da Vinci fez com que pessoas com deficiência, idosos, gestantes, obesos, crianças e todos os outros indivíduos que fogem do padrão, fossem desconsiderados no ato de projetar.

Homem Vitruviano - Leonardo da Vinci
Homem Vitruviano – Leonardo da Vinci

As barreiras arquitetônicas foram evidenciadas após a Segunda Guerra Mundial, pois veteranos de guerra e mutilados não conseguiam mais exercer funções. Foi somente após aproximadamente quinze anos depois que surge a primeira padronização de acessibilidade.

Apresentado pela North Caroline State University, nos Estados Unidos, o conceito do Design Universal é criado, cujos produtos e ambientes são utilizados por todos e para todos, seus princípios seguem:

1- Uso Equitativo;
2- Flexibilidade no uso;
3- Uso simples e intuitivo;
4- Informação Perceptível;
5- Tolerância ao erro;
6- Baixo esforço físico;
7- Tamanho e Espaço para aproximação e uso.

Além disso, devemos considerar a estética, economia, sustentabilidade e cultura local.

Arquitetura Inclusiva- Exemplos
Arquitetura Inclusiva- Exemplos

No Brasil, as transformações relacionadas à acessibilidade começaram a ser implantadas somente a partir da década de 80 e podemos ver nos dias de hoje, diversos locais onde a Arquitetura ainda é projetada para o homem padrão.

A importância da Arquitetura Inclusiva

A importância da Arquitetura Inclusiva está diretamente relacionada a falta de acessibilidade. Segundo dados do IBGE, mais de 24 milhões de brasileiros pertencem a terceira idade e 45,6 milhões são pessoas com deficiência, o que são números significativos.

Ainda, estima-se que em 2024 a população idosa chegue a 38 milhões, reforçando a necessidade de espaços que incluem. Vale ressaltar também, que os conceitos do Desenho Universal não estão baseados somente nas pessoas com deficiência, mas eles garantem a adequação dos espaços em toda a diversidade humana.

Além disso, devemos considerar que somos seres totalmente diferentes, cada um com sua ergonomia e especificidade, por isso a importância de elaborar e aplicar um bom briefing, pois fatores comuns como altura e idade são influenciadores diretos na elaboração de um projeto.

“Pensando que as pessoas envelhecem e que suas necessidades vão mudando ao longo de sua vida, pensar em projetos com Desenho Universal é introduzir também o conceito de arquitetura sustentável, sem necessidade de adaptações posteriores. Ambos se complementam e possibilitam a construção de sociedades verdadeiramente democráticas”.

Arquitetura Inclusiva e a falta de acessibilidade
Arquitetura Inclusiva e a falta de acessibilidade

Pesquisas na área da saúde indicam que idosos sofrem muitos acidentes domésticos, o que poderiam ser evitados com pequenas mudanças como instalação de barras de segurança e pisos adequados. A escolha de materiais e sistemas determinarão como os usuários irão interagir com o espaço construído.

Texturas, variações térmicas, acústicas, uso de cores e contrastes, ganham valorização nos casos de pessoas com deficiência visual. Para os que possuem mobilidade reduzida, superfícies antiderrapantes. Ser capaz de fornecer espaços que sejam universalmente acessíveis é um instrumento que remove barreiras não só físicas mas também sociais.

Arquitetura Inclusiva para crianças
Arquitetura Inclusiva para crianças

Resultando em processos de interação, de forma que todos se tornam capazes de viver suas vidas com confiança, independência e igualdade, e para isso, cabe a nós decisões projetuais relacionadas a equilíbrio, proporção, simetria, ritmo, iluminação, cores, espaço e mobiliário.

Normas brasileiras de Arquitetura Inclusiva

A legislação brasileira conta com normas que garantem acessibilidade às edificações, mobiliário e espaços urbanos, obrigando a implantação de rampas, corrimãos, sinalizadores, acessos sem barreiras em locais públicos.

A NBR 9050/2004 possui força federal e conduz estes parâmetros, desde dados sobre a área de manobra de cadeiras de rodas a legibilidade.

NBR 9050/24 - Principal norma de acessibilidade do país
NBR 9050/24 – Principal norma de acessibilidade do país

Outras legislações pertencentes à Arquitetura Inclusiva são as leis federais n° 10.048, que trata do atendimento prioritário e acessibilidade no transporte a lei e n° 10.098 que trata do meio físico, transporte, comunicação e informação e ajudas técnicas.

Por meio destas medidas, aliadas ao empenho de organizações e pessoas, cada vez mais buscamos por inclusão, igualdade, autonomia, acessibilidade e direito de ir e vir.

Para entender mais sobre a amplitude da arquitetura inclusiva, recomenda-se ler a norma ABNT que regulamenta as práticas.

Como implementar a Arquitetura Inclusiva nos projetos

Para implementar a Arquitetura Inclusiva nos projetos é necessário pensar em espaços que possam ser utilizados por todos de forma segura, fácil e prazerosa, mas também deve-se garantir que os projetos sejam realistas e viáveis, pois existem soluções simples e de baixo custo que geram impactos positivos na vida das pessoas que dependem da acessibilidade.

Ao elaborar o projeto, precisamos considerar:

  • Uso com independência e autonomia;
  • Conforto e segurança dos usuários;
  • Adequação da obra à legislação;
  • Disposição dos espaços;
  • Usos atuais e futuros;
  • Custos e investimentos a longo prazo.
Arquitetura Inclusiva - Gestantes
Arquitetura Inclusiva – Gestantes

Desta forma, a seguir reunimos diversas soluções que contemplam a Arquitetura Inclusiva e cabe a nós arquitetos as consideramos no momento de projetar e expandirmos estes conceitos a outros profissionais que complementarão a obra como engenheiros civis, eletricistas, designers de interiores, entre outros.

Dimensões e circulação

O dimensionamento da edificação é o primeiro fator a ser considerado, pois pode facilitar ou dificultar a mobilidade. Deve ser possível realizar a manobra de cadeiras de rodas em 360° em qualquer ambiente.

Quando tratamos de circulação, devemos nos atentar à largura de portas e corredores, recomenda-se que essas aberturas sejam de 90 cm para portas e 1 m para corredores. Para conversões de 90°, devem ter 1,20 m de largura.

Manobras cadeira de rodas
Manobras cadeira de rodas

Para residências, manter a área de circulação livre é uma solução simples que pode ser solucionada com a redução do mobiliário presente nas passagens, tapetes, optar por armários com portas de correr e móveis com alturas que supram a necessidade da pessoa.

Rampas

As rampas são soluções bastante adotadas quando tratamos de acessibilidade nos acessos. Segundo as normas, elas devem ter no máximo 8% de inclinação em relação ao chão, para que seja possível a locomoção com um esforço mínimo.

Arquitetura Inclusiva - Rampas
Arquitetura Inclusiva – Rampas

Além da baixa inclinação, sua largura mínima deve ser de 1,20 m, com pisos antiderrapantes, patamares no início e no final e presença de corrimão duplo para apoio e suporte.

A passagem deve ser uma rota de fuga próxima a todas as áreas, sem dificultar a saída e devem estar disponíveis a todo o momento. Podem ser implementadas também, a depender da especificidade do projeto, plataformas e elevadores.

Caso ainda tenha dúvidas em relação ao cálculo de rampas confira nosso artigo Como fazer o cálculo de rampa: passo a passo completo.

Revestimentos

Os acabamentos para pisos devem ser bem nivelados e regulares, recomenda-se também que sejam antiderrapantes e sem brilho. Para banheiros, deve-se ainda, instalar barras de apoio.

Arquitetura Inclusiva - Revestimentos - Pisos
Arquitetura Inclusiva – Revestimentos – Pisos

Evite utilizar pisos polidos e de pedras e opte por pisos naturais, mais resistentes, com rejunte menor e mais práticos no momento de limpeza.

Entre as opções de piso, encontramos o piso podotátil, apresentado na imagem acima, uma solução de acessibilidade que alerta sobre obstáculos e direciona caminhos às pessoas com deficiência visual.

Mobiliário

Mobiliário inclusivo é peça fundamental em um projeto acessível. Neste quesito, devemos nos atentar ao tipo de material, quinas, altura e dimensões.

Arquitetura Inclusiva - Mobiliário
Arquitetura Inclusiva – Mobiliário

Ao escolher peças como mesas, sofás e camas, opte por formatos arredondados, se houver tapetes, devem ser grudados ao piso para evitar deslizes, maçanetas de portas e puxadores de gavetas, preferencialmente no modelo de alavanca, de modo que facilite a abertura e o fechamento.

Para escolher o mobiliário, atente-se as necessidades de seu público e consulte especialistas da área. Objetos mais leves e soltos são perigosos por serem facilmente manuseados e pouco estáveis, opte por aqueles que possuem cores e texturas diferenciadas e que gerem contraste.

Iluminação

A iluminação é essencial em áreas que possuem degraus e rampas e também em bancadas de cozinha, banheiros, para que tenham boas condições de visibilidade da tarefa a ser executada. Luminárias de acionamento também são recomendadas.

Arquitetura Inclusiva - Iluminação uniforme
Arquitetura Inclusiva – Iluminação uniforme

Para a iluminação dos ambientes em geral, deve ser uniforme e com poucas áreas de sombra, mas tome cuidado para não exagerar na iluminação e gerar ofuscamento e desconforto.

Elétrica e Hidráulica

Se atente à elétrica e hidráulica, entre os problemas mais comuns encontramos: fios desencapados, soltos, falta ou excesso de iluminação, interruptores e pontos de tomadas com alturas muito altas ou muito baixas, torneiras difíceis de manusear, pias e vasos sanitários em alturas inadequadas.

Banheiro Acessível
Banheiro Acessível

Valorize a iluminação natural, selecione luzes difusas e não ofuscantes, posicione as tomadas as 45 cm do piso e interruptores a 90 cm, as bancadas a 85 cm, suportes e barras de apoio em todos os ambientes molhados.

Automação

A automação também começou a ser aplicada na década de 80, como ferramenta de criar soluções simples e funcionais para a construção civil.

Arquitetura Inclusiva - Automação
Arquitetura Inclusiva – Automação

Quando tratamos de automação, para alguns é relacionada a luxo, para pessoas que necessitam de acessibilidade pode ser um item essencial. Desta forma, a automação inclusiva proporciona bem-estar e independência e pode ser implementada de diversas formas, entre elas encontramos:

  • Portas e janelas que abrem e fecham com o toque;
  • Sensores de presença;
  • Acionamento de luzes;
  • Camas articuladas;
  • Maçanetas, torneiras e botões de fácil acionamento;
  • Confira o nosso artigo sobre Automação Residencial.

Essas e outras soluções promovem a segurança e a autonomia dos usuários, por meio do uso da voz, biometria, telas e painéis que facilitam o controle de iluminação, climatização, movimentação de portas e janelas, entre outros.

O papel do arquiteto é fundamental para equilibrar a estética com as necessidades técnicas e de segurança para o bem-estar dos usuários dos espaços por meio de medidas que não exigem mudanças tão radicais.

Conclusão

A Arquitetura Inclusiva respeita a diversidade humana e proporciona acessibilidade para todos. O desafio de projetar para todos é enriquecedor e gera uma melhora significativa na qualidade de vida dos usuários.

Com a valorização e adesão da acessibilidade, temos uma sociedade mais participativa e humana, desta forma, construções que incluem garantem que a diversidade possa alcançar a todos os espaços.

Pensar na pessoa sem planejar o espaço para as especificidades dela é ineficiente, como consequência, temos acidentes, necessidade de reformas e adaptações. Devemos pensar no projeto para que ele receba seus usuários de forma equitativa.

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