A importância de saber fazer corretamente o cálculo de rampa 

O uso de escadas e rampas é essencial para vencer desníveis, além de também funcionarem como um elemento estético de destaque. Dessa forma, arquitetos, engenheiros civis e estudantes da área da construção civil devem ter conhecimento de como se fazer uma rampa adequada a cada situação, sendo o cálculo de rampa parte importantíssima do seu processo de concepção.

Aliás, uma rampa bem idealizada é fundamental para a aprovação do projeto, além de garantir a acessibilidade universal. Nesse artigo, você aprenderá diferentes formas de fazer o cálculo de rampa de um jeito simples e rápido atendendo as exigências de acessibilidade, assim como escolher o melhor tipo de rampa para o seu projeto.

Foto interna das rampas na FAU USP
Rampa da FAU USP

Quais as normas para o cálculo de rampa?

A principal referência, a NBR 9050, aborda a acessibilidade de edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, sendo uma das principais fontes de informação sobre o tema. Dessa forma, para garantir a acessibilidade, conforto e eficiência de uma rampa, é essencial adequar a rampa de acesso à regulamentação e ao projeto.

O Corpo de Bombeiros também fornece instruções técnicas sobre as rampas, visto que fazem parte do percurso para saída de emergência. As orientações podem variar de acordo com a localidade, mas é importante que as exigências de sinalização, iluminação de emergência e ausência de obstáculos sejam seguidas. Já o cálculo de largura deve estar de acordo com o fluxo de pessoas.

Em resumo, a rampa é definida como um plano inclinado usado para superar barreiras espaciais em ambientes urbanos ou edificações, garantindo a acessibilidade universal. De grande importância nos projetos arquitetônicos, suas características variam de acordo com a função e necessidade do usuário. Por isso, os projetistas devem ter conhecimento de como se fazer uma rampa apropriada para cada situação.

Rampa inadequada, com inclinação muito alta por ter sido feita no mesmo comprimento das escadas
Rampa inadequada

Apesar de ser relativamente simples, é preciso prestar atenção aos detalhes, garantindo a funcionalidade da circulação, além de levar em consideração todas as demais características delimitadas pela legislação. Sem dúvida, alguns dos principais erros estão relacionados ao cálculo de inclinação da rampa e uso de materiais inadequados. 

Como esse artigo está estruturado

Passo a passo para o cálculo de rampa

Primeiramente, para projetar uma rampa, precisamos definir todas as suas dimensões. A fim de seguir as recomendações da norma, se torna necessário o cálculo de rampa, além das informações sobre o uso do espaço, que garantem uma proporção equivalente ao fluxo de pessoas.

  1. Cálculo de altura de rampa
  2. Cálculo de comprimento ou distância de rampa
  3. Cálculo de inclinação de rampa
  4. Inclinação da rampa
  5. Rampas em situações excepcionais
  6. Largura da rampa
  7. Patamares

Mas afinal, como fazer o cálculo de rampa? Porque precisamos garantir a sua acessibilidade, existem limites para o valor da inclinação, diferença de alturas a serem vencidas e número máximo de seções de rampa. Os três valores a serem analisados são: inclinação (i), comprimento ou distância (d), e altura (h).  

Diagrama demonstrando as dimensões da rampa
Diagrama demonstrando “h” e “d”

Como resultado da relação entre a altura que o usuário irá subir (h) e a distância que será ocupada horizontalmente (d), multiplicada por cem (100), a fórmula matemática é representada da seguinte forma:

 i = (h / d) x 100

Para realizar o cálculo será necessário utilizar sempre duas das informações, com o intuito de descobrir a terceira. A inclinação costuma estar representada através de uma porcentagem, enquanto os demais números serão em metros.  

1. Cálculo de altura de rampa (h) 

Em casos de um espaço limitado para o comprimento da rampa e seguindo as normas para inclinação, pode ser necessário determinar qual a altura resultante dessa combinação para determinar os desníveis do projeto. 

Ou seja, caso tivéssemos uma distância equivalente a 5m e inclinação de 6%, dentro das recomendações da NBR 9050, obteríamos o seguinte valor para a altura da rampa: 

Cálculo de altura de rampa

2. Cálculo de comprimento ou distância de rampa (d) 

Provavelmente o cálculo mais procurado, quando sabemos a altura que precisamos vencer e a inclinação correta de acordo com as normas, resta descobrir qual o comprimento necessário para garantir uma rampa de acessibilidade adequada. 

Usando como exemplo uma diferença de altura equivalente a 60cm e inclinação de 8%, de acordo com as exigências da NBR 9050, ao aplicar a fórmula, teremos o seguinte resultado: 

Cálculo de distância de rampa

3. Cálculo de inclinação de rampa (i) 

Quando já sabemos a altura que a rampa deve alcançar e o comprimento disponível para o seu desenvolvimento, fazemos o cálculo para descobrir qual será a inclinação resultante dessas medidas. 

Dessa forma, em uma situação que a altura equivalesse a 60cm e a distância disponível fosse de 5m, ao aplicar a fórmula, teríamos o seguinte resultado: 

Cálculo de inclinação de rampa

Se acaso for necessário analisar a inclinação de uma rampa existente, uma forma de realizar as medidas é usar uma régua com nível e uma trena.

A régua com nível será posicionada de forma que fique reta, enquanto a trena será utilizada para medir a diferença de altura entre os dois pontos (começo e fim da régua). Então, a mesma fórmula apresentada acima serve para descobrir o percentual da inclinação. Essa estratégia é uma recomendação dos manuais da ADA

4. Inclinação da rampa

No entanto, vale ressaltar que os valores obtidos para inclinação irão se adequar com o uso da rampa. Por isso, em situações de desníveis pequenos, como apenas um degrau, podem ser adotadas porcentagens maiores. Já em situações onde é necessário vencer a altura de um pavimento, por exemplo, a inclinação deve ser menor para garantir o conforto na subida e descida. 

Desníveis máximos de cada
segmento de rampa h
m
Inclinação admissível em
cada segmento de rampa i
%
Número máximo
de segmentos
de rampa
1,55,00 (1:20)Sem limite
1,005,00 (1:20) < i ≤ 6,25 (1:16)Sem limite
0,806,25 (1:16) < i ≤ 8,33 (1:12)15
Tabela para dimensionamento de rampas. Fonte: NBR 9050.

Ou seja, a inclinação máxima estabelecida na NBR 9050 para rampas é de 8,33% para os pedestres. Além disso, quando a inclinação variar entre 6,25% e 8,33%, recomenda-se fazer o uso de áreas de descanso a cada 50 metros percorridos. Salvo algumas exceções, que seriam as rampas de plateia, palcos, piscinas e praias. 

Importante ressaltar que as seções da rampa devem ser retas, para facilitar o deslocamento dos usuários, principalmente com mobilidade reduzida. Para que se evite também deslizamentos laterais, a inclinação transversal não deve passar dos 2% em ambientes internos e até 3% nas áreas externas. 

5. Rampas em situações excepcionais

Além disso, existem alguns casos em que se pode adotar valores diferentes. Às vezes, em reformas, não existem possibilidades de usar as medidas da tabela mostrada acima, sendo permitida a execução de rampas com inclinação superior aos 8,33%, podendo chegar no máximo a 12,5%.

No entanto, para rampas curvas, o valor máximo continua sendo 8,33%, com o raio mínimo equivalente a 3 metros. 

Desníveis máximos de cada
segmento de rampa h
m
Inclinação admissível em
cada segmento de rampa i
%
Número máximo
de segmentos
de rampa
0,208,33 (1:12) < i ≤ 10,00 (1:10)4
0,07510,00 (1:10) < i ≤ 12,5 (1:8)1
Tabela para dimensionamento de rampas para situações excepcionais. Fonte: NBR 9050.

6. Largura da rampa

Antes de mais nada, a largura de uma rampa varia de acordo com seu uso e fluxo de pessoas. De acordo com a NBR 9050, a largura mínima recomendada em rampas de acessibilidade seria de 1,5 metros, mas é admitido o valor mínimo de até 1,2 metros.

Assim como com a inclinação, no caso de reformas em edificações preexistentes, pode-se usar a largura mínima de 90 centímetros, contanto que o comprimento das seções tenha no máximo 4 metros horizontalmente.

Foto interna da Biblioteca Torrente Ballester, demonstrando a circulação vertical através da rampa.
Rampa da Biblioteca Torrente Ballester

7. Patamares

Assim como nas escadas, o projeto de rampas inclui o patamar. Seu uso se faz necessário a depender do comprimento, sendo usado também nas mudanças de direção. Ou seja, é colocado entre as seções da rampa, no início e no fim.

Sua medida longitudinal mínima é de 1,2 metros, no entanto, quando se encontram em mudança de direção, terão as medidas iguais à largura da rampa. Nas demais situações, da mesma forma que o restante da rampa, os patamares não devem ter inclinação transversal acima de 2% em ambientes internos e até 3% nas áreas externas.

A fim de garantir o giro de uma cadeira de rodas, sempre que for feita uma mudança na direção da rampa, se faz necessário o uso de patamares, com medida mínima de 150 centímetros de diâmetro. Além disso, os patamares, tanto no acesso, quanto na saída das rampas, necessitam de um distanciamento sem obstáculo, com a mesma medida de 150 centímetros de diâmetro. 

Foto de uma rampa com mudança de direção, tirada a partir do patamar intermediário.
Patamar na mudança de direção

Acessibilidade para Rampas

Assim como mencionado no tópico anterior, inclinação, patamares e largura devem seguir as recomendações da NBR 9050 para garantir a acessibilidade. Mas além dessas, existem outras especificações na norma. 

Corrimão

Exemplo de corrimão em rampa retirado da NBR 9050, com anotações dos diferentes elementos e recomendações
Exemplo de corrimão em rampa retirado da NBR 9050

A fim de garantir a segurança dos pedestres, as rampas devem possuir corrimão de duas alturas, nos dois lados, distanciados do piso em 92 centímetros e 70 centímetros. No início e término das rampas, devem se prolongar por no mínimo 30 centímetros.

O corrimão deve ser construído em material rígido e acoplado aos guarda-corpos, sendo um elemento contínuo, sem interrupção nos patamares.  

Corrimão em rampa como especificado pela NBR 9050, fazendo uso do material correto e diferentes alturas.
Corrimão em rampa

Enquanto que, em casos de rampas maiores ou iguais a 2,4 metros de largura, além do corrimão fixado nas laterais, fica recomendado um intermediário, que será duplo e terá as mesmas duas alturas dos demais. Seu distanciamento deve garantir a largura mínima para passagem de 1,2 metros.

Além disso, esses corrimãos só devem ser interrompidos nas situações de patamares com comprimento acima de 1,4 metros e seus segmentos devem estar espaçadas com um mínimo de 80 centímetros entre si. 

Elementos de segurança: guarda-corpo e guia de balizamento 

Exemplo de guia de balizamento em rampa retirado da NBR 9050, com anotações sobre os diferentes elementos e medidas.
Exemplo de guia de balizamento em rampa retirado da NBR 9050

Assim como com os corrimãos, esses elementos protegem os usuários na rampa. Quando não houver paredes laterais, se torna necessário a colocação de guarda-corpo e guias de balizamento. Assim sendo, as guias devem ser construídas ou instaladas nos limites da largura, com uma altura mínima equivalente a 5 centímetros. Podem ser de alvenaria ou outros materiais de mesma finalidade. 

Materiais 

Bem como o cuidado com esses elementos que fazem parte da composição da rampa, a escolha dos materiais é de extrema importância. O material da estrutura é livre, mas para o piso, o revestimento precisa ser antiderrapante, de forma a garantir a segurança dos usuários.

Além disso, para garantir a acessibilidade, o uso do pavimento podotátil horizontal (piso tátil) é obrigatório no começo e fim da rampa, devendo ter cor diferente dos demais materiais utilizados.  

Foto do piso tátil na cor amarela, se destacando do piso ao redor na cor cinza.
Piso Tátil em cor diferente dos demais materiais

Qual formato adotar para rampa? 

Assim como as escadas permitem certas variações em seu formato, a partir do posicionamento de cada conjunto de degraus, as rampas podem ser elaboradas movimentando as direções de seus segmentos. Desde que sigam a normativa, a combinação de diferentes posicionamentos pode gerar uma forma interessante, que agregue ao projeto.

Foto interna de rampa curva
Rampa curva

Existem as rampas retas e curvas, sendo as retas mais comuns por facilitarem o uso para os pedestres. Mas apesar de retas, possuem variações. Seus segmentos podem seguir um sentido único, criando um percurso contínuo ou fazer mudanças de direção, seguindo o formato de um “L” ou “U”.

Diagrama demonstrando os diferentes tipos de rampa, sendo uma contínua, uma em "L" e uma em "U"
Formatos de rampa

Também é possível trabalhar com a circulação vertical distribuída no espaço, ao invés de concentrá-la num ponto único, trazendo a ideia de um passeio para o usuário. Dessa forma, tudo depende do tipo de projeto, seu uso, desníveis a serem vencidos e espaço disponível para a implantação da rampa. 

Foto interna de um espaço amplo, com diferentes percursos, onde as rampas são integradas.
Rampas integradas ao percurso

Como fazer o cálculo de rampas de garagem? 

O cálculo de rampa para o acesso à garagens será feito da mesma forma, mudando apenas as referências para os valores.

Além disso, é necessário um cuidado extra com a inclinação no começo e fim da circulação, para garantir que carros mais baixos possam passar sem correr o risco de encostar no chão.

Precisamos levar em consideração a função da rampa, enquanto normalmente a circulação precisa ser confortável para pedestres, em garagens o usuário se torna o automóvel. Devido à sua força de motor e dimensões, é possível trabalhar com inclinações maiores, no entanto necessitando de uma maior largura para circulação.  

Diagrama demonstrando a rampa de garagem e as porcentagens de inclinação adequadas.
Diagrama com a inclinação para rampa de garagem

Dessa forma, o valor recomendado é de 25% para inclinação ao longo da rampa, enquanto no começo e fim, por pelo menos 2 metros, é recomendado o uso de uma inclinação menor, com até 20%

Conclusão

Agora você já sabe como se preparar e garantir o desenvolvimento de uma rampa adequada para o seu projeto, que proporcione conforto, segurança e acessibilidade a todos os usuários.

Por mais simples que seja o cálculo para o dimensionamento das rampas, é comum surgirem dificuldades durante a sua elaboração e não podemos nos desatentar dos detalhes técnicos cobrados pela legislação.  

O uso da NBR 9050 e instruções do Corpo de Bombeiros garantem o conforto e eficácia da rampa projetada, além da acessibilidade universal. Isto é, qualquer cidadão tem o seu direito de ir e vir consolidado, independente de suas possíveis deficiências, permanentes ou ocasionais.

Esse artigo tem o intuito de auxiliar em uma etapa do projeto, mas cada caso é único e devem ser levadas em consideração suas características individuais, assim como as normas locais.

Caso você ainda tenha dúvidas, em outras etapas projetuais, estudar sobre a elaboração de Projetos Executivos de Arquitetura e conhecer a Plataforma Projetou.com.br pode te ajudar!