O que é Bioconstrução?
A Bioconstrução é uma técnica construtiva que permite através do uso de materiais de baixo impacto, adequação da arquitetura ao clima local e tratamento de resíduos, a minimização dos impactos ambientais causadas pela construção civil.
Atualmente observa-se que a construção civil é uma das áreas que mais trazem impactos ao meio ambiente, por meio da geração de resíduos em construções e da poluição ambiental causada pelos processos construtivos industriais.
Em razão disso, torna-se necessário repensar os meios de construção tradicionais, seguindo em busca de alternativas sustentáveis que visam preservar o meio ambiente ao mesmo tempo que priorize a qualidade das edificações a serem construídas.

Por isso, é importante que Arquitetos conheçam as principais características que compõe o processo da Bioconstrução, reconhecendo os materiais empregados, suas principais técnicas, bem como as etapas que caracterizam o seu desenvolvimento.
Como este Artigo está estruturado
- Qual a importância da Bioconstrução?
- Bioconstrução como Arquitetura Social
- Bioconstrução e Permacultura
- Características da Bioconstrução
- Materiais que são utilizados na Bioconstrução
- Técnicas que são utilizados na Bioconstrução
- Etapas do projeto de Bioconstrução
Qual a Importância da Bioconstrução?
Como dito anteriormente, a Bioconstrução consiste em um conjunto de técnicas utilizadas para construção de um ambiente sustentável. Para isso são aplicados conceitos baseados no aproveitamento de materiais locais e seu desperdício mínimo, adaptação da arquitetura ao clima local e tratamento dos resíduos.
Essas características são importantes para minimizar os impactos causados pela indústria da construção civil ao meio ambiente. Impactos esses que começaram a ser realmente percebidos a partir da metade do século XX.

A partir da década de 1970 nasce o conceito de Desenvolvimento Sustentável e com ele começa a ser discutido padrões para o uso de recursos naturais de modo a preservar o meio ambiente.
Diante disso, o setor da construção civil tem cada vez mais buscado alternativas visando reduzir esses impactos, uma delas é o uso da Bioconstrução.
Dentre as vantagens que podemos citar da Bioconstrução estão:
- Diminuição da geração de resíduos;
- Diminuição no consumo de energia;
- Diminuição dos riscos de incêndio;
- Troca de experiências nas comunidades;
- Economia de materiais e de mão de obra;
- Preservação do meio ambiente;
- Entre outros.
Bioconstrução como Arquitetura Social
A Bioconstrução pode ser considerada uma alternativa no combate ao déficit habitacional podendo servir a programas de Habitação de Interesse Social, uma vez que as técnicas construtivas da Bioconstrução são relativamente simples e baratas podendo ser empregadas em comunidades carentes.

Uma vez que essas técnicas são utilizadas em comunidades de difícil acesso, elas são capazes de auxiliar na criação de habitações eficientes e seguras. Este processo traz autonomia para estas comunidades, uma vez que elas não dependerão de auxílio exterior.
Nesse sentido, o fato de dominar técnicas construtivas tradicionais e autossustentáveis, além de contribuir para esta autonomia fortalece o conhecimento e integração da comunidade, reduz os custos da mão de obra e dos materiais a ser utilizados.

Bioconstrução e Permacultura
A Permacultura é entendida como o resgate das técnicas ancestrais de sobrevivência visando suprir as necessidades básicas, respeitando a natureza e buscando causar o menor impacto ambiental possível.

A Bioconstrução está diretamente conectada a Permacultura, sendo ela um de seus instrumentos, servindo para ser aplicada na construção de moradias e tecnologias para geração do menor impacto ambiental em comunidades humanas.
Portanto, ambas são utilizadas em conjunto visando a criação de edificações sustentáveis que gerem menos lixo e produza menos energia, causando assim o menor impacto possível ao meio ambiente.
Características da Bioconstrução
Para garantir o correto uso da técnica de Bioconstrução, é importante conhecer suas principais caraterísticas, os materiais e técnicas a ser empregados.
Como já mencionado, a Bioconstrução tem como pilar principal a construção de edificações que podem ser entendidas como autossuficientes, para isso é necessário refletir sobre o uso de materiais ecológicos e locais, técnicas da arquitetura ancestral e desenvolver o conforto térmico natural.

As principais características adotadas na Bioconstrução são:
- Análise do ciclo de vida dos materiais a ser utilizados;
- Análise do destino de cada material;
- Não uso de materiais tóxicos e descartáveis;
- Priorização dos materiais locais;
- Emprego de tecnologias de materiais de mercado industrial;
- Racionalização do uso da água e tratamento natural dos resíduos (esgoto);
- Busca pela utilização de fontes renováveis de energia e eficiência do seu uso;
- Entre outras.
Portanto, o conceito central da Bioconstrução é promover o fluxo harmônico das construções usando os recursos disponíveis no local.
No que tange a questão do conforto ambiental, são empregados conceitos como o uso de iluminação e ventilação naturais através da adoção de aberturas nas fachadas e escolha de materiais que garantam controle da temperatura do ambiente.
Materiais que são utilizados na Bioconstrução
Os materiais são elementos essenciais para a aplicação das técnicas da Bioconstrução, eles devem preferencialmente estar presentes nos locais onde as edificações serão erguidas.
A valorização de materiais locais, auxilia a evitar poluição no momento do transporte e geram maior economia para obra.
A seguir os principais materiais utilizados na Bioconstrução:
Terra
A terra é o material mais flexível a ser empregado, pois é abundante em qualquer local. Pode ser empregada de diversas maneiras, sendo o principal material em técnicas como o adobe, superadobe e taipa.

As construções compostas por terra são responsáveis por proporcionar ambientes com maiores níveis de ventilação natural, já que este material é capaz de controlar as trocas térmicas entre o calor e a umidade.
Além de todos esses fatores também é o material que propicia o menor impacto ambiental.
Pedra
Assim como a terra, as pedras costumam ser encontradas com facilidade em diversos locais, também servindo para as mais diversas finalidades, dentre as quais podemos citar: construção de paredes e muros.

Também costumam ser empregadas com frequência na fundação da construção, servindo como suporte no terreno.
Palha
A palha tem uma usabilidade muito grande para construções, podendo ser utilizada em algumas técnicas para aumentar a resistência de tijolos e paredes.

Também é comumente utilizada na construção de paredes e de coberturas.
Madeira
Assim como os outros materiais descritos acima, a madeira possui facilidade em ser encontrada em diversos lugares, tendo como vantagem principal o fato de ser um recurso que pode ser renovado quando sua exploração é realizada adequadamente.
Serve para os mais diversos fins para construções, sendo comumente empregada nas estruturas das edificações. O bambu é uma opção interessante a ser considerada.

Técnicas que são utilizados na Bioconstrução
Agora que conhecemos os principais materiais que são utilizados na Bioconstrução, podemos explorar mais a respeitos das mais notáveis técnicas construtivas:
Adobe
Esta técnica visa a produção do tijolo que é desenvolvido a partir da mistura de areia, estrume, barro cru e fibra vegetal. É necessário que o tijolo seja coberto por massa de areia e cal, sendo mesclados, modelados e secos naturalmente.

Essa técnica é geralmente empregada em locais quentes e secos, devido a sua contribuição para o conforto térmico natural.
O adobe é considerado benéfico, pois regula a temperatura interna do ambiente, além de custar relativamente barato para realização, porém essa técnica deve ser empregada apenas em locais quentes e com baixa umidade.
Superadobe
Esta técnica é criada a partir da compressão de sacos preenchidos com terra argilosa, sendo utilizada na criação de parede e coberturas. Por esta razão, é identificada como técnica da terra ensacada.
Esses sacos são moldados com uso de pilões no próprio local onde a edificação será construída. O processo consiste na colocação da argila umedecida em sacos de polipropileno que serão comprimidos manualmente.
Após esse processo os sacos são dispostos no local e ao atingir a altura desejada são retirados e a parede pode ser rebocada.

O superadobe geralmente é mais simples e ágil que a técnica comum de adobe, sendo um material de baixo custo e que entrega conforto acústico e térmico, sendo também resistente.
COB
A técnica de COB consiste na mistura de areia, palha, água e argila para atingir a forma desejada. Ela é parecida com a técnica do adobe, sendo sua mistura simples e serve para moldar as paredes.
As paredes criadas a partir da mistura são mais robustas e contribuem para o conforto térmico do ambiente, pois aquecem a casa no inverso e esfriam no verão.

Além da construção das paredes também pode ser empregada na criação de mobiliários para os ambientes.

Pau a pique ou Taipa de mão
É uma técnica bastante antiga em que são construídos painéis de madeira entrelaçados. Os painéis são compostos por barras verticais, fixadas ao solo e barras horizontais presas por cordas, cipós ou pregos, criando espaços quadrados que serão preenchidos com barro.

Este processo é realizado manualmente e é vantajoso por possuir baixo custo.
Taipa de pilão
Assim como o pau a pique é uma técnica antiga inclusive muito utilizada na construção de igrejas durante o período colonial brasileiro.
Esta técnica consiste na utilização de um pilão para misturar a terra dentro de uma forma de madeira (taipa). Também é considerada um procedimento de baixo custo.

Solo-cimento
Essa técnica consiste no uso de tijolos, sendo diferenciada das demais técnicas como o adobe, por utilizar cimento na composição dos tijolos.

Os tijolos não são levados ao forno, necessitando para o processo de cura estar em locais de sombra onde é possível que seja mantida a umidade.
Cordwood
Para esta técnica é empregado o uso de tocos de troncos de arvores que são preenchidos com argamassa.

As dimensões dos tocos dependem da espessura que se deseja nas paredes. Geralmente é um método utilizado para construção de paredes.
Estrutura de bambu
É utilizado para as mais diversas finalidades dentro dos campos construtivos, sendo comumente empregado nas estruturas das edificações, na criação de pilares e vigas entre outros.

O bambu é um material de grande versatilidade, além de apresentar grande resistência.
Fardos de palha
Na técnica de fardos de palha, os fardos são fincados uns aos outros usando varas de aço ou bambu. As paredes feitas por esse método são mais robustas o que atribui a casa maior conforto térmico.

É um recurso barato e que possui grande resistência e durabilidade.
Coberturas em palha
As coberturas criadas com essa técnica não possuem grande duração, porém é uma técnica interessante do ponto de vista térmico, pois contribuem na diminuição da temperatura interna do ambiente.

No momento de construção da cobertura feita de palha, recomenda-se a inclinação mínima do ângulo de 30% na execução.
Ferrocimento
Esta técnica consiste na aplicação de cimento sob uma estrutura armada de ferro, criada por vergalhões envoltos em uma tela de metal.

Não possui tanta resistência quanto o concreto armado, porém é uma alternativa de baixo custo que pode funcionar dependendo do tipo de edificação, podendo ser aplicada manualmente.
Etapas do projeto de Bioconstrução
Agora que já sabemos quais os materiais e quais as principais técnicas construtivas utilizadas na Bioconstrução, é necessário entender quais são as etapas de um projeto com esta finalidade.
A Bioconstrução prioriza um gerenciamento prévio da construção, visando minimizar os impactos gerados pela obra ao meio ambiente.
Este planejamento ocorre através de estudos acerca da definição dos materiais locais e das técnicas que serão usadas.
Dessa forma, as principais etapas do projeto de Bioconstrução são:
Estudo e aproveitamento de matérias primas locais
A primeira etapa para um projeto de Bioconstrução bem-sucedido é a realização de um estudo a respeito dos materiais locais presentes na área a ser construída, assim como garantir meios de aproveitá-los corretamente.

Neste sentido, também é importante que seja realizado um levantamento que aborde a tipologia do solo local, do clima da região a ser intervinda e outros fatores.
Também é importante considerar o consumo energético da construção, uma das maneiras de reduzir este consumo é através da adoção do uso da energia solar, que pode ser captada na própria cobertura da casa.

É importante entender que o projeto de Bioconstrução usará materiais e técnicas diversas de acordo com o clima ou tipo de solo que o caracterize. Portanto um projeto realizado na região sul será diferente de um realizado na região norte.
Gerenciamento e tratamento de resíduos
Projetos de Bioconstrução prezam pelo mínimo desperdício de resíduos tanto secos quanto orgânicos. Logo, esses materiais podem ser reutilizados tanto na própria estrutura da construção quanto em sistemas que fazem parte dela.
Um exemplo a ser considerado são os sanitários secos, que consistem em uma espécie de vaso sanitário que funciona sem uso da descarga de água.

Os sanitários a seco podem ser divididos em dois tipos: um vaso cujos resíduos vão em direção aum buraco no solo e o outro que funciona como compostagem, sendo que os resíduos vão para um local selado ou instalado no solo.

Outro exemplo se dá através da reutilização das águas da pia, chuveiro e cisternas que podem servir para irrigar as plantações.

Ambas as opções buscam economizar e dar uma nova utilidade aos resíduos orgânicos gerados e são interessantes para locais onde o saneamento básico é ineficiente.
Água da chuva e conforto térmico
As construções que utilizam as técnicas da Bioconstrução são geralmente feitas com materiais permeáveis como o adobe, superadobe e outros. Por isso é importante garantir através do projeto da cobertura mecanismos que possam evitar a infiltração pela água da chuva.

Nesse sentido, recomenda-se que sejam construídas casas nas quais o telhado possua uma acentuada inclinação e com beirais maiores a fim de proporcionar um melhor escoamento da água da chuva.
Para as regiões quentes é recomendado a implantação de telhados verdes, que auxiliam a controlar a temperatura no ambiente. Também é importante a adoção de aberturas amplas a fim de permitir maior ventilação.

A vegetação local exterior segue o mesmo princípio, pois casas que são rodeadas por plantas e árvores geram um microclima úmido que auxilia no controle da temperatura.

Conclusão
Ao longo desse artigo foi possível entender o que é e qual a importância dos projetos que utilizam a Bioconstrução, suas características principais, bem como o seu impacto na preservação do meio ambiente.
Aprendemos ainda sobre os principais materiais e técnicas empregados neste estilo construtivo. Estes projetos, além de auxiliar a minimizar os impactos ambientais causadas pela indústria da construção civil, também podem contribuir para a criação de habitações em comunidades carentes.
A finalidade deste artigo é auxiliar o entendimento de como ocorre o processo construtivo da Bioconstrução e as principais etapas que o caracterizam.
Contudo é indispensável uma pesquisa mais aprofundada, buscando consultar normas e materiais específicos, sendo fundamental observar as principais necessidades deste tipo de projeto.
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