O que é Psicologia Ambiental?
A Psicologia Ambiental é a ciência que estuda as inter-relações entre comportamento do ser humano e os espaços que integram a sua vivência. Logo, ela redefine o conceito de meio ambiente, o qual passa a representar quaisquer espaços ocupado pelo ser humano.
O ser humano passa uma considerável parte de sua vida confinado em ambientes fechados idealizados e modificados em virtude de atender suas necessidades básicas. Todavia, nem sempre as sensações e emoções produzidos por estes espaços, contribuem para sua saúde e bem-estar.
Certos aspectos presentes em ambientes físicos, possuem capacidade de causar sensações e sentimentos que podem, dependendo do tipo de espaço, podem atuar aumentando ou diminuindo a concentração, a produtividade ou o conforto e a tranquilidade dos usuários.
Desse modo, alguns desses aspectos presentes nos espaços físicos desempenham um papel essencial na melhoria da qualidade de vida de seus usuários.
Nesse sentido, é importante que Arquitetos conheçam a função e a importância da adoção da Psicologia Ambiental aos ambientes, entendendo os seus princípios básicos, suas características principais, bem como ela pode contribuir na melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Como este Artigo está estruturado
- Qual a importância da psicologia ambiental?
- Quando surgiu a psicologia ambiental?
- Hipóteses consideradas na Psicologia Ambiental
- Características da psicologia ambiental
- Níveis de abordagem da psicologia ambiental
- Como a psicologia ambiental pode melhorar a qualidade dos espaços?
Qual a importância da Psicologia Ambiental?
O objetivo da Psicologia Ambiental é estudar como o ser humano se comporta em relação aos espaços em que ele vive.
Em outras palavras essa ciência possui foco em esclarecer por que o ambiente exerce influência sobre o ser humano e como essa influência pode ser usada em prol de melhorar o relacionamento dele com o entorno.
Ao levarmos em consideração que os espaços habitados pelo ser humano possuem particularidades que influenciam o subconsciente o tempo inteiro, provocando diversas sensações e emoções, é valido afirmar que a organização espacial dos ambientes possui conexão com a psicologia humana, sendo assim, capaz de afetar a saúde das pessoas.
O estresse é um dos problemas de saúde que mais afeta as populações dos grandes centros urbanos mundiais. Dados recentes demonstram que, cerca de metade da população das grandes metrópoles são afetadas por esse transtorno, sendo ele responsável pela origem de outros diversos problemas de saúde.
Nesse seguimento, a Psicologia Ambiental busca avaliar os índices de estresse ambientais buscando alcançar o entendimento de suas influências no comportamento social e na saúde mental dos indivíduos.
Por este motivo, os recentes estudos da Psicologia Ambiental possuem foco em trabalhar pela busca do bem-estar e qualidade de vida tanto individual quanto coletiva.
Ademais, a Psicologia Ambiental também demonstra interesse em analisar como se dão as relações com a preservação do meio ambiente, contribuindo para as discussões a respeito do conceito da Sustentabilidade.
Quando surgiu a psicologia ambiental?
A Psicologia Ambiental teve seu surgimento após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), atrelada com a necessidade de reconstrução das cidades europeias arrasadas durante as guerras e na busca pela recuperação psicológica de seus habitantes, demonstrando a importância do convívio coletivo.
Nesse contexto, entre as décadas de 1950 e 1960 se originou um conceito conhecido como a “Psicologia da Arquitetura”. Este conceito surgiu a partir da necessidade dos arquitetos de compreenderem as necessidades dos futuros usuários dos espaços públicos que seriam reconstruídos no pós-guerra.
No mesmo período, arquitetos e estudiosos da psicologia se dedicaram a trabalhos colaborativos, visando a união da necessidade de construção aliada a preocupação com o estado emocional da população.
As visões de ambos divergiam no que diz respeito ao fato da Arquitetura da época considerar uma visão consistente do ambiente, acreditando que ele era o causador de mudanças, ao mesmo tempo que a psicologia focava no comportamento dos indivíduos em relação aos meios.
Um dos expoentes mais importantes da Psicologia Ambiental foi Kurt Lewin (1890-1947) um psicólogo alemão, que passou a se dedicar à estudos sobre como se dava o relacionamento entre o ambiente e o ser humano, buscando determinar a atuação que o meio ambiente exercia sobre as pessoas.
Dessa maneira, a Psicologia Ambiental passou a ter como finalidade o estudo da relação entre o desempenho de atividades, o ambiente e o ser humano.
Hipóteses consideradas na Psicologia Ambiental
Existem cinco hipóteses a ser seguidas com o intuito de investigação e intervenção na Psicologia Ambiental.
A primeira hipótese é de que ao invés de uma existência meramente social, o ser humano possui uma existência física que o permite ocupar qualquer espaço onde quer que ele esteja;
A segunda, prega que a percepção ambiental somente se torna possível em função de uma existência sequencial que reconhece a representação de cada edificação ao nosso redor.
A terceira afirma que, durante o processo conceptual deve ser considerado não apenas as experiências individuais anteriores, mas a função por ela exercida em um local definido e as regras sociais das quais ele pertence;
A quarta, acredita que a atividade desempenhada pelo individuo deve ser levada em consideração, assim como o seu papel na realização dessa atividade, pois admite-se que se o sujeito ocupa algum local é por conta de algum objetivo a ser cumprido
E por último, a quinta hipótese afirma que os padrões e regras que tratam certos lugares devem ser analisados, de modo que se torne possível compreender a ação que o espaço físico exerce no comportamento humano.
Características da Psicologia Ambiental
A Psicologia Ambiental funciona a partir da união de três importantes características que a define. A união desses três elementos permite a expansão da percepção total da relação entre os ambientes e o comportamento humano.
Multidisciplinaridade
A primeira característica proveniente da Psicologia Ambiental é o fato dela ser considerada multidisciplinar, o que faz com que ela receba colaborações de outras disciplinas, podendo essas, serem a própria psicologia, geografia, sociologia, antropologia, planejamento dentre outras.
Inter-relacionamento
Como dito anteriormente, durante as décadas de 1950 e 1960, a psicologia ambiental juntamente com a Arquitetura da época, possuíam uma visão de que os espaços físicos não deveriam ser passiveis de flexibilização, para que sua funcionalidade não fosse abalada.
Posteriormente, a influência que o ser humano desempenha nos espaços habitados por ele, através de uma relação homem e ambiente passou a ser considerada, o que atribuiu autonomia para o indivíduo realizar modificações com o objetivo de melhorar sua qualidade de vida em determinado ambiente.
Nesse sentido, os estudos passam a considerar a inter-relação entre o espaço físico que pode ser natural ou construído e o comportamento do ser humano, que por meio de sua influência modifica os espaços segundo as suas necessidades.
Unicidade
Outra característica importante da Psicologia Ambiental é a unicidade que consiste na incapacidade de separação entre o parecer psicológico e o contexto político-social e o econômico, não sendo mais levado em conta apenas o comportamento ou condutas isoladas sem a compreensão dos espaços que o sujeito frequenta.
Além das três principais características que a define, esta ciência de um modo geral ainda pode ser caracterizada por:
- Um olhar circunstancial acerca do comportamento humano;
- Interesse em estudar questões de viés ambiental;
- Intervenção teórica e metodológica exercida pela Psicologia social;
- Assuntos que possuam foco interdisciplinar;
- Viabilidade de Pesquisa-ação;
- Dentre outros.
Dessa forma, é possível afirmar que a Psicologia Ambiental não analisa o efeito que o ambiente físico exerce sobre o comportamento humano de maneira isolada, sendo preciso considerar a contextualização que ele ocorre.
Níveis de abordagem da psicologia ambiental
Os níveis de abordagem da Psicologia Ambiental se originaram a partir do aperfeiçoamento de suas ideologias, buscando tornar o trabalho desenvolvido por pesquisas nessa área mais bem detalhado e mais abrangente, com o intuito de facilitar a compreensão sobre o tema.
Por isso, foram criadas algumas condições que envolvem os seguintes pontos: o indivíduo, a Arquitetura juntamente com a ambientação de locais e as estruturas de nível urbano e rural.
Nível Pessoal
Este ponto apresenta aspectos que possuem relação com o comportamento ambiental do ser humano em relação aos conceitos de espaço pessoal, territorialidade, questões acerca da privacidade e superlotação.
O espaço pessoal consiste em uma maneira de espaço imaginário ao redor de cada sujeito, sendo ele imprescindível para a manutenção de um padrão de privacidade.
A territorialidade corresponde a necessidade de posse e manutenção de um determinado espaço, que poderia ser por exemplo, a casa própria ou mesmo um de seus cômodos.
A superlotação é uma condição na qual não é possível alcançar a privacidade, ou alcançá-la com muito custo.
Nível Arquitetônico
Este nível visa o estudo a respeito das estruturas arquitetônicas de maneira geral, analisando as edificações habitacionais e suas formas, as diversas tipologias comerciais e institucionais e outras formas de espaço.
Nesse sentido, todos os outros princípios de nível pessoal (espaço pessoal, territorialidade e superlotação), assim como a capacidade de percepção ambiental são examinadas de acordo com a estrutura arquitetônica do ambiente em questão.
O nível arquitetônico, além de analisar a estrutura arquitetônica, busca entender as necessidades pessoais dos sujeitos e melhorar a qualidade dos espaços de acordo com os princípios psicológicos, visando a preservação da saúde mental através da adoção de elementos que compõe estes espaços.
Nível urbano, rural e regional
Especificamente neste nível, são realizados estudos orientados para projetos e políticas urbanas e regionais, ao mesmo tempo que considera os outros dois níveis antes citados.
Estes estudos abordam a relação entre a mobilidade urbana, a maneira como as cidades são dispostas, os ambientes que compõe o espaço urbano, bem como a influência exercida pela vivência urbana de seus habitantes.
Também é foco dessas pesquisas, a necessidade de preservação do meio ambiente e a relação entre os espaços urbanos com o Desenvolvimento Sustentável.
Essa necessidade é usada como amparo na manutenção da saúde mental dos habitantes desses espaços urbanos, sendo estabelecido que a relação entre o micro e o macro é primordial para a vida humana e seu futuro.
Como a psicologia ambiental pode melhorar a qualidade dos espaços?
Já entendemos o conceito e os tipos de abordagens e campos que a Psicologia Ambiental estuda. Agora é o momento de entendermos como os espaços e suas configurações podem atuar na melhoria da nossa qualidade de vida.
A relação entre ser humano e o meio ambiente que ele vivência é de extrema importância, assim como a maneira em que ele se relaciona com este meio e a forma como este meio é preservado.
Uma alteração simples de um espaço pode ser capaz de melhorar o desempenho profissional no ambiente de trabalho, aumentando as interações sociais que nele ocorrem.
Portanto, a Psicologia Ambiental quando aplicada de maneira eficiente permite a realização de melhorias nos espaços de vivência do ser humano e deve ser usada de acordo com as necessidades que ele possuir.
A seguir, vamos entender como a Psicologia Ambiental pode ser empregada de acordo com a tipologia de espaço almejado.
Espaços internos
Os ambientes interiores são os que comportam por mais tempo a permanência do ser humano. Em função disso o Design de Interiores possui uma notória relevância na sua composição, desempenhando um papel importante para a psicologia humana.
Dentre as características que atribuem importância na concepção dos espaços internos aliado com a Psicologia Ambiental temos: a segurança, o conforto, os ânimos sensoriais e a acessibilidade.
Alguns conceitos também podem ser aplicados na melhoria da qualidade espacial dos ambientes internos. Estes podem ser: simetria, proporção, equilíbrio etc., podendo eles influenciarem as sensações de organização e tranquilidade.
Outra estratégia aplicada ao Design de interiores de determinado ambiente é o uso da Psicologia das Cores, que afirma que o comportamento humano pode ser orientado segundo diversas tonalidades aplicadas.
Por exemplo, atribui-se a ambientes que possuem a tonalidades de azul a sensação de tranquilidade, sendo a cor azul considerada uma cor terapêutica e que induz o relaxamento. Por este motivo, pode ser empregada em ambientes como quartos.
Em contrapartida, ambientes internos que possuem tonalidades de amarelo estão relacionados a alta energia, sendo uma cor considerada quente e extrovertida, auxiliando na ativação mental. Por isso, são indicados para ambientes de estudo e trabalho.
A Iluminação também possui um papel especial na composição dos ambientes internos. Por meio de seu uso é possível criar ambientes mais introspectivos ou mais animados, tudo dependendo de sua intensidade e cor.
Espaços externos públicos
Quando o assunto é busca por tranquilidade e lazer, os parques, praças e outros espaços verdes públicos são os mais requisitados.
Essa procura é explicada pela necessidade de confinamento diário em ambientes apertados e por vezes desconfortáveis, aliado a rotina estressante das grandes cidades.
Por este motivo, torna-se importante que os centros urbanos ofereçam ambientes públicos agradáveis e com presença de vegetação e arborização.
Já é conhecido por meio de pesquisas na área da Neuroarquitetura, que os ambientes possuem capacidade de estimular o cérebro humano.
Além disso, o emprego de arborização e vegetação nos espaços contribui para a sensação de tranquilidade e bem-estar pessoais.
Uma alternativa para alcançar este objetivo, é a aplicação do Design Biofílico nos espaços externos públicos com o intuito de integrar a natureza e o ser humano.
Nesse sentido, é importante que os ambientes públicos externos possuam um tratamento paisagístico, a fim de contribuir para que os espaços públicos externos se tornem locais agradáveis e contemplativos para a população.
Espaço urbano
No que diz respeito a concepção dos espaços urbanos é importante pensar nas questões que abordam a mobilidade e acessibilidade, buscando priorizar necessariamente espaços urbanos seguros e confortáveis.
Nesse sentido, o Projeto Ruas Completas é definido como projetos de espaços democráticos cujo desenho visa abrigar tanto os transportes coletivos como os individuais em suas diversas alternativas.
Assim, uma rua coletiva possuiria a capacidade de acomodar transportes coletivos, bicicletas e pedestres de maneira segura, sendo ocupadas integralmente e proporcionando espaços de permanência de acordo com cada região onde fossem implantadas.
O projeto conta ainda com a possibilidade de uma diretriz que permita que o uso do solo possua maior diversificação e que a população esteja totalmente inserida nesta causa, pois as necessidades diárias pertencem a elas.
Conclusão
Ao longo desse artigo foi possível entender os conceitos a importância da aplicação da Psicologia Ambiental nos espaços de vivência do ser humano, compreendendo os aspectos que a compõe, bem como os princípios que ela utiliza para o entendimento da relação entre o meio e o ser humano.
A Psicologia Ambiental agrega importância para a qualidade de vida do ser humano no espaço arquitetônico em que ele se insere. É primordial em uma Arquitetura inclusiva, alcançar a melhoria dos espaços arquitetônicos, a fim de garantir o bem-estar daqueles que os usufruem.
Pensando nisso, a Projetou convida estudantes e profissionais para participar do seu 1º Concurso de Arquitetura e Engenharia cujo objetivo é alcançar a otimização dos espaços arquitetônicos em benefício do bem-estar dos usuários, mediante a realização de um anteprojeto fictício para a sua sede física.
As inscrições para participar do Concurso têm início a partir do dia 30 de agosto de 2021 e se encerram as 23h59 do dia 08 de outubro 2021, sendo realizadas através do site concurso.projetou.com.br. O prazo para o envio dos projetos é até o dia 15 de outubro de 2021 e você pode concorrer a mais de 10 prêmios incríveis!
