O que é Arquitetura Barroca?
A Arquitetura Barroca é considerada como a manifestação artística e construtiva da Contrarreforma.
Com início em Roma no século XVII, o período barroco é conhecido por sua revolução urbanística, assim como, pela exuberância e teatralidade aplicadas a arte e a arquitetura.
Tal estilo foi predominante na Europa até meados do século XVIII. Já no Brasil, suas manifestações datam do século XVIII ao início do século XIX.
Como esse artigo está estruturado
- Contexto Histórico
- Arquitetura Barroca
- Arquitetura Barroca no mundo
- Arquitetura Barroca no Brasil
- Conclusão
1- Contexto Histórico
No início do século XVI, Martinho Lutero, um monge Alemão, lidera o movimento político/religioso denominado de Reforma Protestante. O alvo das críticas do movimento eram a Igreja Católica e os dogmas impostos pelo clero, sobretudo o Papado.
Por conseguinte, a Igreja Católica inicia o movimento de Contrarreforma, marcado pelo Concílio de Trento em 1545, um dos eventos mais importantes da história do catolicismo. O objetivo da Contrarreforma era disseminar a fé católica através da catequização de novas regiões e inibir outras manifestações religiosas como o Protestantismo, condenando seus fiéis como hereges.
No panorama política o regime Absolutista era predominante na Europa. Em meio a esse cenário turbulento e de dualidades surge a expressão do Barroco, fortemente representado em arquiteturas religiosas e palácios governamentais.
2- Arquitetura Barroca
Principais características da Arquitetura Barroca
A Arquitetura Barroca abarca o período entre os séculos XVII e XVIII na Europa e se estende no Brasil até o século XIX.
A Igreja Católica é a grande financiadora da arte e da arquitetura nesse período. Sua intenção era demonstrar poder e riqueza através através das obras monumentais e exuberantes e ao mesmo tempo catequizar os fiéis por meio das pinturas e esculturas presentes nos templos religiosos.
O estilo barroco está presente desde a arte até a arquitetura e o urbanismo. As características predominantes desse estilo são:
Extravagância
O barroco é a manifestação do exagero. As artes trabalham com um grande número de elementos decorativos e compositivos e a literatura inclui uso extensivo das figuras de linguagem.
Criação de cenários/teatralidade
A arquitetura barroca, assim como a arte se utiliza das composições do espaço para criar diferentes cenários. Um grande exemplo no mundo arquitetônico é a manipulação da luz. No barroco, trabalha-se a luz para enfatizar pontos que se deseja destacar como um altar, um oratório, trazendo dramaticidade a vivência espacial.
Criação de perspectivas
No Renascimento foram desenvolvidas as técnicas de perspectivas. Assim, no barroco, os artistas se beneficiaram do novo conhecimento tanto para evidenciar uma obra arquitetônica, realizando intervenções urbanísticas que possibilitassem a visualização desejada, como para provocar vivências espaciais distintas.
Dualidade/Contradição
As obras barroca, tanto artísticas quanto arquitetônicas refletem o período histórico vigente. Com o Renascimento pós período medieval, houve uma libertação ideológica perante os dogmas religiosos, desenvolvendo-se o conceito do Antropocentrismo. Entretanto, no período barroco, a religiosidade ganha força novamente, causando conflito interno nos homens entre desfrutar dos prazeres mundanos ou estar próximo a Deus. Temáticas como fé e razão, corpo e alma, vida e morte, luz e sombra, eram recorrentes nas manifestações artísticas.
Humanismo
A partir do Renascimento, o Antropocentrismo passa a fazer parte da cultura. No barroco o divino se aproxima do humano. De forma que as representações artísticas ganham realismo, e as pessoas passam a se identificar com a arte, fator fundamental para que a catequização proposta tivesse sucesso.
Principais elementos da Arquitetura Barroca
A partir dos preceitos característicos do barroco, listamos a seguir os principais elementos que compõem a sua arquitetura:
Formas curvas
As formas curvas são predominantes na arquitetura barroca, em contraposição as linhas retas do estilo clássico. As curvas são aplicadas tanto em grandes elementos construtivos como as cúpulas e as fachadas côncavas e convexas até os elementos decorativos.
Cúpula
As cúpulas são elementos essenciais nessa manifestação arquitetônica. Altamente decoradas, as cúpulas barrocas demonstram a ideia de centralização e vínculo com o divino.
Colunas
Exuberantes e decoradas compõem as fachadas e o interior das obras.
Elementos decorativos
Em ouro ou pintura dourada, os elementos decorativos são encontrados em grande quantidade, beirando o exagero.
3-Arquitetura Barroca no mundo
Igreja de São Carlos nas Quatro Fontes (1638-1677)
A Igreja de São Carlos nas Quatro Fontes projetada pelo arquiteto Francesco Borromini foi construída em Roma na Itália entre os anos de 1638 e 1677 e é considerada um das obras mais marcantes do estilo Barroco.
A obra foi concluída 10 anos após da morte do arquiteto contudo, desenhos confirmam que ela foi executada de acordo com o projeto original, com exceção do medalhão no topo e do arco de coroamento.
A fachada é composta por uma curva em “S” duplo formada por duas aberturas côncavas nas laterais e uma convexa no centro. No andar superior, Borromini projetou uma abertura côncava central criando dessa forma, uma elegante edícula oval saltada para fora.
Os vãos da fachada são marcados pela presença de colunas e nichos cercados por colunas menores. No interior dos nichos encontram-se esculturas de santos. No topo da fachada o medalhão oval é sustentado por anjos. Já sobre o acesso principal anjos querubins circundam a figura de São Carlos.
Borromini criou sua obra a partir de formas ovais, circulares, semicirculares e triangulares. Dessa forma, o interior da igreja reflete a busca do barroco pelo movimento, sendo impossível para o observador separar mentalmente uma forma da outra. A sobreposição dos elementos se torna ainda mais evidente devido a larga utilização do estuque branco como material aplicado.
A entrada de luz zenital através da cúpula oval faz alusão a iluminação divina, e cria a teatralidade barroca com o jogo de luz e sombra nos elementos.
Palácio de Versalhes (1600-1680)
O Palácio de Versalhes construído na França entre os anos de 1600 e 1680 é símbolo da ostentação e luxo dos reis absolutistas. O palácio projetada pelo arquiteto Louis Le Vau e o artista Charles Le Brun, começou a ser construído no reinado de Luiz XIV reforçando seu poder e riqueza perante a sociedade.
O Palácio de Versalhes incluindo seu jardim é um complexo construtivo de cerca de 67.000 m² com mais de 700 quartos, 2.000 janelas, 67 escadas, 1.000 lareiras.
No período barroco o entorno das edificações era tão valorizado e planejado quanto a própria arquitetura. Através do desenho das praças e jardins cria-se ângulos, perspectivas e evidencia-se os pontos focais de interesse.
A composição paisagística do jardim do Palácio de Versalhes, com suas formas curvas, se tornou referência no estudo do paisagismo. Se você deseja saber mais sobre paisagismo, clique aqui e conheça nosso curso Projetos de Paisagismo!
No interior do Palácio de Versalhes um dos ambientes mais conhecidos é a Galeria dos Espelhos. Este ambiente extremamente ornamentado conta com 17 arcos espelhados estrategicamente posicionados para refletirem as 17 janelas com arcadas voltadas para o jardim. Além dos espelhos a galeria ainda abriga uma coleção de estátuas barrocas alinhadas e outros elementos decorativos como pinturas no teto e aplicações douradas.
A Capela Real também é um ambiente icônico do Palácio, nela podemos perceber a presença simultânea de elementos dos estilos gótico e barroco. Tanto o telhado pontiagudo quanto as gárgulas são características do estilo medieval. Entretanto, as colunas ornamentadas, os pilares esculpidos e integrados aos arcos e o piso de mármore colorido refletem o estilo barroco. A decoração se destaca na composição, as pinturas e esculturas ressaltam o poder da monarquia e validam o “Direito Divino” dos reis.
4- Arquitetura Barroca no Brasil
Barroco brasileiro
No Brasil a arquitetura barroca é chamada de tardia, uma vez que, sua manifestação data do final do século XVIII e início do século XIX. O estilo barroco foi trazido ao Brasil pelos colonizadores portanto, as obras mais importantes do período se encontram nas cidades coloniais.
As primeiras construções barrocas no Brasil tiveram grande influência portuguesa. Com a exploração do novo território, os portugueses objetivavam controlar e catequizar a população do Novo Mundo. Para isso, foram realizadas as missões religiosas e as construções das igrejas e residências governamentais.
Igreja São Miguel (1735)
Em São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, os Missionários dos Sete Povos foram os responsáveis pela catequização da população indígena.
Hoje, em ruínas, a Igreja de São Miguel é um dos grandes exemplares da arquitetura barroca no Brasil. Projetada pelo arquiteto jesuíta italiano Gian Battista Primoli, foi inspirado na Igreja de Gesù (Roma), principal templo jesuítico romano.
A Igreja de São Miguel, se apresentava no estilo barroco, utilizando ondulações côncavas da fachada e inclinação dos planos externos, destacando a monumentalidade da obra.
Com a estrutura em pedra arenito, era pintada de branco e seu interior era ricamente ornamentado por pinturas e esculturas sacras de madeira policromada. Ao longo dos anos, a igreja foi sendo degradada por saqueadores em busca do tesouro dos jesuítas. Em 1886, os telhados e o pórtico desabaram.
Basílica e Convento de Nossa Senhora do Carmo (1687-1767)
O Convento e a Basílica de Nossa Senhora do Carmo estão localizados em Recife, Pernambuco.
Diferentemente da Igreja São Miguel, a Basílica e o Convento de Nossa Senhora do Carmo foram construídas em função dos carmelitas. Os carmelitas chegaram ao Brasil no final do século XVI, construindo o primeiro Convento Carmelita do Brasil no ano de 1590 em Olinda.
A construção da Basílica e Convento de Nossa Senhora do Carmo em Recife se iniciou em 1687 sob os cuidados do mestre construtor capitão Antônio Fernandes de Matos. O senhor de engenho Diogo Cavalcanti Vasconcelos foi o benfeitor do novo templo em troca do direito de sepultura a sua família no local.
A obra foi iniciada da capela-mor, com seu teto em abóbada e detalhes em douramento, e prolongou-se por vários anos até finalmente ser concluída em 1767, conforme data na fachada.
A Basílica contava com duas capelas laterais que compõem o transepto, dois campanários, entretanto, apenas um foi construído. Os retábulos junto ao altar datam de diferentes períodos, entre os séculos XVIII e XIX.
A Basílica do Carmo é considerada um dos mais expressivos monumentos religiosos de Pernambuco. Sua fachada com portada central, em madeira almofadada, está em destaque. Outras duas portas laterais, foram adornadas com cantaria e com vergas sutilmente arqueadas. Logo acima, é possível observar as janelas do coro, com trabalho decorativo similar a portada. Entre as janelas, existem dois altares de pedra encimados por óculos, que abrigam as imagens dos profetas Elias e Eliseu.
Centralizado na composição, está o brasão da Ordem dos Carmelitas. O frontão, foi trabalhado com volutas, pináculos e cruz central. No tímpano nos deparamos com a imagem de Nossa Senhora do Carmo. A torre sineira conta com vãos em arco pleno, sino e fechamento em coroa.
No seu interior, a igreja possui nave única, seis altares laterais, transepto, púlpitos e tribunas, todos amplamente ornamentados em talha, pintura, douramento e esculturas.
A construção da Basílica ainda gerou uma polêmica intervenção urbanística na época. Para destacar a obra foi criado um largo em frente a sua fachada principal.
Barroco mineiro
Nas cidades mineiras o estilo barroco foi influenciado tanto pela cultura europeia quanto pela arquitetura já praticada no Brasil porém, um dos grandes diferenciais encontrados entre a arquitetura barroca no Brasil e na Europa são os materiais utilizados. Assim, nomeou-se o estilo nacional de barroco mineiro.
Igreja Nossa Senhora do Carmo (1733)
A Igreja Nossa Senhora do Carmo localizada na cidade de São João del Rei, Minas Gerais, teve sua construção iniciada nos primeiros dias do ano de 1733. A fachada atual da igreja é datada de 1787, seu mestre de obras e artífice foi grande mestre português Francisco de Lima Cerqueira. Francisco também trabalhou na construção da Igreja de São Francisco de Assis.
A composição simétrica da fachada evidencia os elementos do estilo barroco. A presença das formas curvilíneas é marcantes tanto no frontispício como nos elementos decorativos rebuscados ao redor da porta principal.
As torres, em formato octogonal, são encimadas por cúpulas com cruzes metálicas. Suas aberturas coincidentes com as arestas são consideradas incomuns na arquitetura colonial.
No centro da portada encontramos o principal elemento decorativo da fachada, o medalhão de Nossa Senhora do Carmo. Esculpido em pedra é rico em detalhes, Nossa Senhora do Carmo repousa sobre um resplendor circular enquanto é circundada por anjos.
Internamente a igreja é exuberante na decoração. O material predominante utilizado nos elementos decorativos é a madeira, pintada de branco e dourado. É possível notar a vasta aplicação das curvas tanto nas pilastras retorcidas, quanto nos arcos e nos ornamentos aplicados. O trabalho artístico da capela e altar-mor e dos púlpitos são de autoria do artista Manuel Rodrigues Coelho.
Igreja São Francisco de Assis (1766)
A cidade colonial Ouro Preto, Minas Gerais é Patrimônio Cultural da Humanidade. Um dos elementos arquitetônicos mais importantes da cidade é a Igreja São Francisco de Assis, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Considerada como a obra-prima do mestre construtor Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho) a igreja se destaca no cenário da cidade.
Sua construção foi iniciada pela capela-mor, estando concluída em 1771. Na sequência, a abóbada foi construída entre os anos de 1772 e 1774. No mesmo período sua ornamentação em talha e estuque foi realizada sob direção de Aleijadinho. Assim como, o artista também concluiu os púlpitos em pedra-sabão inseridos no arco-cruzeiro.
Já o retábulo do altar-mor, item ordenador de toda a decoração da capela, só foi executado entre 1790 e 1794. Após conclusão da capela-mor, o frontispício foi executado, cuja portada, construída em 1744, também teve sua execução por Aleijadinho. Em 1787 e 1788, as torres sofreram um acréscimo e os telhados do templo foram construídos.
Finalmente, em 1794, foi concluída a obra de alvenaria por Domingos Moreira de Oliveira. Contudo, grande parte do douramento e pintura, assim como o trabalho de talharia dos altares da nave ainda deveriam ser feitos. Manuel da Costa Athaíde foi o artista responsável, entre os anos de 1801 e 1812, pela pintura e douramento da capela-mor, a pintura do forro da nave e dos painéis a óleo da nave e capela-mor.
A originalidade da planta está na supressão dos corredores da nave e maior integração dos corredores da capela-mor ao conjunto, assim como, no posicionamento das torres, fechando-se para trás no corpo da igreja, destacando o frontispício.
O frontispício, importante elemento arquitetônico, concentra os elementos decorativos na portada e no medalhão superior. As formas circulares das torres coroadas por flechas de proporções audaciosas também simbolizam o caráter inovador da construção.
Conclusão
Desse modo, podemos concluir que a Arquitetura Barroca, além de enriquecer a história da arquitetura com tamanha beleza e exuberância teve papel fundamental na construção social de sua época.
Com isso, podemos perceber que estudando as manifestações arquitetônicas nos faz compreender a sociedade, cultura os fatos históricos e por fim a nossa conformação arquitetônica e social.
Dessa forma, aproveitamos para ressaltar a importância dos órgãos de preservação histórica como o IPHAN. Cuidar do patrimônio é preservar nossa cultura e história. Para saber um pouco mais sobre patrimônio histórico na arquitetura clique aqui e confira o texto que preparamos para você.
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